Existe a tendência de analisar resultados das eleições autárquicas através da qualidade dos candidatos, suas propostas ou por fatores exógenos, como a conjuntura nacional. Muitas vezes, analisa-se o efeito e esquece-se a causa, não se procurando entender a mudança de sentido de voto por parte dos eleitores. Obviamente, aqueles que são mais plurais procuram, através do seu voto, manifestar, não só as suas preferências políticas mas, também, o seu protesto.
A Praça Luís Ribeiro está em constante transformação desde 1986. Depois de construído o IC2, retirando trânsito do centro da cidade, a criação da zona pedonal surgiu como proposta inovadora. Apesar de criticada e não ser considerada uma prioridade das obras municipais, o novo centro transformou-se em área de lazer da população, que ali promoveu novos negócios, desfrutou das suas esplanadas e assistiu à programação de entretenimento proposta para as noites de fim de semana de verão.
O conceito prolongou-se no tempo. A zona pedonal foi aguentando a descentralização (a deslocalização de comércio para a Avenida Renato Araújo, o retirar de concertos de verão para o jardim), só não suportou as novas obras de revitalização, operadas no virar do milénio. Um projeto mal assimilado, com as consequências desagradáveis das obras (ruído, lama, pó) a irritar a população, que, apercebendo-se do aumento de artérias sem trânsito, onde não havia comércio, passou à ação, protestando e opondo-se ao avançar da obra. Alguns desses protagonistas seriam candidatos autárquicos em 2001 e essa força partidária venceu, com maioria absoluta, derrotando 18 anos de gestão autárquica do CDS-PP.
Na década seguinte, assistiu-se ao encolher da zona pedonal. Um ajuste, com algumas artérias a receberem de novo trânsito, com aplicação de novo mobiliário urbano. Apesar da intervenção, o processo de descentralização já era irreversível, acrescido da criação de um novo parque urbano na cidade, junto às margens do Rio Ul e da abertura do shopping 8ª Avenida. As críticas iam surgindo, no entanto, nada alterava o aspeto decrépito que a zona pedonal tinha adquirido.
Em 2017, quando é mandado demolir o Elemento Arquitetónico, os protestos voltam a surgir. Curiosamente são jovens os protagonistas, revelando a sua ousadia e uma inesperada participação cívica. Outra curiosidade é a importância debatida sobre o aspeto funcional da Praça, após a longa agonia. Meses depois, nas eleições autárquicas, o PS vencia, com maioria absoluta e interrompia 16 anos de gestão autárquica liderada pelo PSD, embora os últimos dois fossem em coligação com o CDS-PP.
Chegados a 2020 há novamente obras na Praça Luís Ribeiro e de novo há protestos. Desta vez o mote é o abate das árvores com décadas de existência. Em reunião camarária, o vereador da oposição reclama e exige a apresentação do comprovativo fitossanitário justificativo, argumentado pelo Presidente. População, com identificação por um movimento partidário, organiza-se numa petição pedindo para não haver mais abate de árvores e dois partidos de esquerda entram nesta luta, elegendo o ambiente como manifesto da sua indignação, suspendendo momentaneamente a defesa (legítima) dos direitos dos trabalhadores.
O mal-estar é latente. O arquiteto paisagístico Sidónio Pardal acentuou as críticas, indicando que os plátanos deveriam ter sido substituídos ao longo dos anos e não retirados em simultâneo. Para contrabalançar, a câmara municipal mandou plantar mais de duas centenas de árvores no Parque do rio Ul, mas, pela imagem publicada nos jornais locais, os cinquenta centímetros dos pés plantados, a ser a receita aplicada na Praça Luís Ribeiro, não servirão para atenuar os protestos da população, bastante sensibilizada para questões ambientais.
Em 2021 haverá eleições autárquicas. O resultado dessas eleições permitirá perceber a causalidade dos protestos às obras da Praça Luís Ribeiro, averiguando-se se as relações aqui expostas foram meramente casuais, ou se pelo contrário, este facto terá sido decisivo para formar a opinião do ele