Em determinado momento da vida de cada um há sempre alguém que deixa marcas que o passar dos anos não consegue, nunca, destruir. Muitas vezes esse alguém foi um dos nossos professores. Eu também tenho marcas dessas. Preservo-as e nada nem ninguém as conseguirá apagar. Foram marcas deixadas por vários dos professores de quem tive o privilégio de ser aluno. Pessoas a quem hoje ainda chamo de “meu professor” ou “minha professora”. Nesta introdução permitam-me que destaque duas dessas várias pessoas. Foram e felizmente ainda são, “as minhas professoras”, verdadeiras senhoras a quem, se assim se pode dizer, devo muito do saber ler, escrever e contar. Tudo começou na escola primária, com a minha muito querida professora Manuela Ribas que, tenho a certeza, lerá este texto. A ela devo as bases fundamentais do que – e como – sei ler, escrever e contar. Mais tarde, na arte de contar, raciocinar e calcular foi a “minha professora” Maria do Carmo que nos fez, à época, perceber que a Matemática não era um bicho de sete cabeças. É a ela que devo as bases mais profundas dessa exata ciência que tantas vezes nos torna a vida inexata! E que também lerá este texto. Sei que o fará como faz sempre com o labor. Como fazem ambas. Porque a nossa ligação perdura desde “as carteiras” da Escola dos Condes e as do Colégio Castilho. Tal como elas, também o “meu professor Dr. Maurício” – só Dr. Maurício como lhe chamávamos – estaria hoje a ler este texto se não nos tivesse deixado no final da semana passada. Ou não. Porque se ele ainda cá estivesse este texto não existiria. Mas é para ele e por ele que o escrevo. O Dr. Maurício lecionou várias disciplinas mas ficou como “o meu professor” de Filosofia. Uma matéria de que não gostávamos, mas que tínhamos de suportar e ultrapassar porque era disciplina obrigatória para acabar o “7º ano do Liceu”, o equivalente ao 11º ano de hoje. E ele percebia bem que a maioria de nós estava ali… porque sim. Encarava tudo isso com uma bonomia, uma simpatia, uma bondade e uma amizade incomuns. Tinha a capacidade de transformar o nosso enfado numa aula que acabava por ser agradável e suportava como nenhum outro as maroteiras com que íamos ajudando o ponteiro dos minutos a acelerar. Sempre com o característico sorriso com que ainda há pouco tempo me dirigiu no meio do nosso último cumprimento. Essa solidariedade natural com os seus alunos marcou muitos de nós pela vida fora. Tive, como outros, o privilégio de manter uma Amizade verdadeira com o Dr. Maurício. Fomos sempre muito amigos e a vida, felizmente, proporcionou-nos vários reencontros. O Dr. Maurício era um cientista dos valores, do conhecimento. Esteve sempre com S. João da Madeira. Fez a nossa Monografia, um trabalho notável para quem quiser saber de onde vimos. Fez um livro sobre os Silvas e teve o cuidado de me enviar um com uma lindíssima dedicatória para eu perceber de que Silva vinha… O Dr. Maurício era um Amigo. Meu e de S. João da Madeira. Era ainda meu professor. De Filosofia? Não. Era muito mais que isso. Era “o meu professor”.