Mesmo durante o estado de emergência e estando em teletrabalho, Diana Familiar saiu à rua para trabalhar, porque, como disse, “o nosso trabalho só faz sentido se sentirmos mesmo o que está a acontecer”
Com a declaração do estado de emergência, Diana Familiar, de 29 anos, viu a sua rotina de trabalho mudar. De repente, passou da redação do labor para a sua sala de estar, lá de casa.
As entrevistas presenciais deram lugar a videoconferências, a telefonemas e a emails sem fim. Porque, com a chegada da pandemia ao nosso país, este jornal de S. João da Madeira onde trabalha como jornalista há sete anos fez o que tantos outros órgãos de comunicação social fizeram, “esvaziando” as suas instalações para cumprir as regras do distanciamento social.
O teletrabalho passou a fazer parte do dia a dia de Diana Familiar e dos restantes colegas de equipa. A “nova realidade” trouxe novas formas de trabalhar a um semanário que, apesar da quebra nas receitas publicitárias e nas vendas em banca, nunca deixou de sair todas as semanas. E isso, para Diana Familiar, “é de valorizar”.
“É de valorizar – repetiu – o esforço que fizeram para continuar a fazer sair o jornal todas as semanas, sem cortar no rendimento dos trabalhadores”. Esta jornalista do concelho de Santa Maria da Feira reconheceu ainda “o contributo de todos os assinantes e de todos que tenham comprado o jornal”, assim como “de todos que tenham contribuído com publicidade que, às vezes, nem era esperada, mas que decidiram ser solidários connosco”. Mas também é de opinião que “só assim conseguimos superar esta e qualquer outra crise: não pensando cada um em si, mas sim dando as mãos e tentando nos manter à tona”.
“Só podíamos ter a noção real das coisas se estivéssemos com as pessoas”
Semana após semana, desde meados de março até maio, Diana Familiar passou a ter de fazer à distância a maioria dos contactos. O teletrabalho passou a fazer parte do seu dia a dia e, verdade seja dita, “apesar de no início não ter sido complicado, apenas diferente do que estava habituada, depois de me habituar acho que a pandemia veio dar ainda mais força à ideia de que o nosso trabalho não precisa de um horário rígido nem de um lugar fixo para trabalhar”. Se bem que um local fixo até é “importante para a equipa estar junta para debater as ideias, sobretudo no dia de fecho da edição, assim como é importante teres um computador e um telefone de trabalho, mas o horário não”, fez ver, admitindo que “eu própria sentiria falta se não houvesse uma redação”.
Mesmo durante a fase mais crítica, Diana Familiar continuou a vir à redação para fechar a edição à quarta-feira, assim como continuou a sair à rua para tirar fotografias e até mesmo falar com as pessoas, tomando obviamente os cuidados necessários. Ninguém a obrigou a fazê-lo, mas, como explicou, “só podíamos ter a noção real das coisas se estivéssemos com as pessoas”.
“Ainda me lembro, quando decretaram o estado de emergência, de estacionar o carro na ‘Oliveira Júnior’, de vir a pé e de ver poucos carros na rua e de muitos comércios fechados com avisos a dizerem ‘encerrado devido à Covid-19’”, descreveu a jornalista, segundo a qual “o nosso trabalho só faz sentido se sentirmos mesmo o que está a acontecer”.
“Encaro isto como um desafio para todos, desde a pessoa que varre a rua até ao político da cidade”
Diana Familiar admitiu ter tido “algum medo” de ficar infetada. Houve várias pessoas, inclusive a própria mãe, que a aconselharam a não sair de casa. Só que o “espírito de missão” falou sempre mais alto.
Mas – atenção – não é por isso que se considera uma “heroína” ou algo do género. “Longe disso. Limitei-me, apenas, a continuar a fazer aquilo que é o meu trabalho”, garantiu, encarando toda esta crise pandémica “como um desafio para todos, desde a pessoa que varre a rua até ao político da cidade”. “Assim como foi um desafio muito grande para quem teve de fechar o negócio, teve de deixar trabalhar, para quem foi despedido ou quem tem filhos em casa e teve de conciliar a profissão com o ensino”, prosseguiu, querendo acreditar que o pior já passou, o que não é fácil, porque a vacina ainda está longe de ser uma realidade e também pela crise económica e social que já se está a fazer sentir.
De qualquer modo, a jovem feirense consegue ver “vantagens” em tudo isto que está a acontecer. “Passei a valorizar ainda mais o tempo que passo com as pessoas, principalmente com as que me são mais próximas, e também a avaliar melhor certos dramas e problemas que pensava que existiam na minha vida. Passei a filtrar o que realmente vale a pena”, contou, assegurando ainda que passou também a “ distinguir o que é essencial do que é dispensável” em termos de artigos de consumo.
“Sou de opinião que é preferível ter informação a mais do que a menos”
Diana Familiar foi perentória quando questionada sobre “se era possível passar por tudo isto sem haver informação”: “De maneira alguma!”. Em seu entender, “por mais críticas que ouçamos todos os dias, a toda a hora, de que os jornalistas só se focam na Covid e de que há informação que é mais desinformação do que informação, é preferível que assim seja”. “Só tenho 29 anos e não sei o que era viver antes do 25 de Abril, mas sou de opinião que é preferível ter informação a mais do que a menos e ter a liberdade de filtrar essa informação”, defendeu.
E, sim, também considera que “contribuímos (os jornalistas) para combater a pandemia”. Na sua ótica, são os jornalistas que “dão a informação que ajuda as pessoas a perceberem o que estão a enfrentar, que cuidados devem ter e o que está a ser feito por parte das autoridades, desde juntas, câmaras, Proteção Civil, forças de segurança, hospitais, centros de saúde. “Somos um veículo transmissor de toda a informação que parte desses canais”, vincou.
E por falar em “autoridades”, “continuamos a ter determinadas entidades ligadas à Saúde, que considero muito importantes para nos transmitirem informações, que não o fizeram”, lamentou a jornalista, recordando “situações em que, em vez de facilitarem, acabaram por bloquear o trabalho”.
Bloqueios à parte, e olhando para estes sete anos de atividade jornalística, Diana Familiar faz “um balanço positivo”. “Nem tudo são rosas”, como em todas as profissões, mas neste momento não se vê a fazer outra coisa. “Fui conquistando espaço, o meu lugar e, no geral, sinto-me bem”, referiu, confidenciando que o que lhe dá mais gozo é “conhecer as pessoas e contar a história delas”.