E instalar mais postos de carregamento elétrico na cidade
Num concelho onde o setor dos transportes é o “principal contribuinte” em termos de emissões de CO2, com mais de 412 mil toneladas registadas em 2018, o desafio coletivo passa por “reduzir a utilização das viaturas automóveis”.
Marcando presença, do lado do público, na conferência “Pensar Futuro” que trouxe a ambientalista Júlia Seixas a S. João da Madeira (SJM) no passado sábado, Jorge Sequeira falou da aposta “no transporte coletivo e também elétrico” que a câmara a que preside quer fazer.
“Vamos adquirir agora viaturas elétricas para o parque do Município e também vamos apostar na instalação de mais postos de carregamento elétrico”, adiantou o autarca, dando nota, a propósito destes últimos equipamentos, que já instalaram um na cidade e está em curso a instalação de mais um.
“De 2009 até 2013 houve uma queda significativa de emissões” em S. João da Madeira
Mas atenção que, segundo o edil, para além dos transportes, há outros emissores de CO2 que “devemos atacar”, nomeadamente os setores da indústria (que emitiu 320 mil toneladas em 2018), serviços (182 mil toneladas), residencial (141 mil toneladas). Seguem-se, ainda, a iluminação pública e a recolha e tratamento de resíduos.
Na ocasião, o “número um” do executivo municipal informou que, “em termos de evolução, a partir de 2009 até 2013 [coincidindo com o período da crise] houve uma queda significativa de emissões”. Já depois de 2014, “começaram a subir, mas em 2018 ainda não estávamos ao nível de 2009”, chamou à atenção.
Encarar a crise climática como “uma nova oportunidade”
Neste final de tarde, em SJM, Júlia Seixas trouxe à discussão o Pacto Ecológico Europeu, apresentado em dezembro do ano passado pela presidente da Comissão Europeia. Trata-se de um acordo assente em 10 pilares que sustentam várias iniciativas propostas para converter o combate às alterações climáticas no novo modelo de crescimento económico do continente europeu.
A ideia de Ursula von der Leyen é levar a União Europeia (UE) para a vanguarda da luta contra as alterações climáticas, tornando-se um líder mundial, e, ao mesmo tempo, desenvolver a economia. E – na opinião da especialista em Ambiente, Energia e Alterações Climáticas – esta“é uma oportunidade para a humanidade”.
Devemos, de acordo com Júlia Seixas, encarar esta crise climática que vivemos como “uma nova oportunidade”.
União Europeia quer atingir neutralidade carbónica até 2050
O objetivo deste “Green Deal”, que “é a bandeira” da nova líder da União Europeia, é que a Europa atinja a neutralidade carbónica até 2050, havendo, pelo meio, outras metas com prazos mais apertados, nomeadamente ao nível da recuperação da biodiversidade. Para isso, a União Europeia prevê que sejam colocadas em prática diversas ações destinadas a proteger o ambiente e a impulsionar a economia verde.
Mas este caminho a percorrer pela UE não é fácil e tem muitos obstáculos pela frente, como fez ver a professora universitária durante a sua apresentação. Aliás, em seu entender, “o problema tem de ser abordado de forma global e a solução também tem de ser global”, não podendo ficar de fora deste longo e difícil percurso países como a China, os Estados Unidos da América (EUA) e até mesmo a Rússia.
As grandes ameaças – quase sempre interligadas – estão identificadas e incluem aspetos incontornáveis como o degelo das calotes polares, a perda massiva da biodiversidade, as emissões de CO2, o aumento da temperatura global, a frequência com que ocorrem grandes incêndios que destroem vastas áreas de floresta. Casos dos que, por exemplo, têm deflagrado na Austrália e nos EUA.
A propósito, Júlia Seixas destacou o papel decisivo da Europa na resposta global a esses riscos, que colocam o desafio de “mudar a forma como produzimos e como consumimos” e exigem que sejamos “inovadores” como nunca fomos.
“Temos de entender isto como o ‘nosso’ momento do Homem na lua”, exortou. E, concretamente, em relação a Portugal, considerou que esta alteração de paradigma que se impõe é “uma oportunidade” para o país tirar partido de recursos renováveis e sustentáveis.
Próxima conferência, com Alexandre Quintanilha, a 31 de outubro
A próxima conferência “Pensar Futuro” está agendada para 31 de outubro, tendo como orador convidado Alexandre Quintanilha, professor catedrático jubilado, doutorado em Física, e deputado à Assembleia da República.
Recorde-se que, este ano, a autarquia está a promover este seu projeto iniciado em 2018 em associação com a iniciativa “Lisboa: Capital Verde Europeia 2020”, tendo o Ambiente como tema central.
“Sou frontalmente contra o aeroporto do Montijo”
Foi uma Júlia Seixas “sem papas na língua” aquela que se ouviu em S. João da Madeira quando questionada por um elemento do público sobre o aeroporto do Montijo. “Sou frontalmente contra”, disse a especialista em Ambiente, Energia e Alterações Climáticas, defendendo que sim, que “devemos pensar num novo aeroporto, mas não é nesta modalidade”. Ainda mais quando ali ao lado fica o Estuário do Tejo com centenas de milhares de aves que devem ser protegidas.
“A aviação tem sido muito acarinhada para um modelo de turismo, a meu entender, não muito correto”, afirmou a professora da Faculdade de Ciências e Engenharia da Universidade Nova de Lisboa, dando a saber que, a partir de agora, ela própria reduzirá o número de viagens de avião para duas por ano – uma de lazer e outra de trabalho.
“Há muitas reuniões a que fui e não precisava de ter ido”, admitiu Júlia Seixas, dando como exemplo o que “poupou” em viagens, inclusive do ponto de vista ambiental, com reuniões e outros eventos realizados à distância de um clique por causa da Covid-19.
Exploração de lítio sim, mas não “em áreas protegidas”
Júlia Seixas é “frontalmente contra a exploração de lítio [em Portugal] se ocorrer em áreas protegidas”. Já relativamente às outras áreas, defendeu nos Paços da Cultura que “não podemos ser desonestos”.
“Sei que preciso de lítio para o meu telemóvel” e para os veículos elétricos e, assim sendo, “gostava mesmo que Portugal desenvolvesse um cluster de engenharia para sermos os melhores do mundo a recuperar lítio onde ele já existe”, defendeu a conferencista, para quem, “em vez de sermos extrativos, devíamos ser reconversores”. Na sua ótica, já devíamos estar a aproveitar o lítio existente nos telemóveis que há no país.