PÚBLICO OU PRIVADO?
Regressemos anos atrás. À outra crise. O que era bom na altura? O privado. Privatizar grandes empresas de referência nacional era a palavra de ordem, o rumo certo, a panaceia para todos os males do que era público (que os têm…). Lá se foram empresas de referência para chineses, americanos ou europeus – o efeito é o mesmo – e algumas até se esfumaram em pouco tempo. Mas o país ficou com os mesmos problemas e em alguns setores com mais do que os que já tinha. Na saúde a ideia semelhante. Ao mesmo tempo que surgiam grandes (e alguns muito bons) hospitais privados fruto dessa mesma iniciativa, pulularam os defensores da gestão privada dos que eram públicos. Só que veio, entretanto, esta coisa da pandemia e todos nos recordamos da primeira polémica de relevo entre os dois conceitos: No pico da pandemia os privados cancelaram tudo o que era consultas e cirurgias e começaram a preparar-se para tratar dos “covides” na expectativa de que por cada “covide” o Estado (nós…) pagaria a pipa de massa prevista na tabela que os próprios privados tinham já preparado. Só que a coisa não correu dessa forma e, felizmente, no meio das dificuldades o que era público – o SNS – lá conseguiu controlar a situação e até superar o que dele se esperava. Nessa altura não foram poucos os políticos que, representando a área ideológica que sempre defendeu e praticou as privatizações e a primazia do privado sobre o público, não viram os seus parentes caírem na lama por desatarem a saudar o trabalho do público, os sacrifícios do público, a falta de dinheiro e de meios do público e por aí fora. Não terão sido posições e opiniões consistentes com o que defendiam anteriormente, mas acabaram por ficar bem na fotografia. Mas logo que a cacetada do vírus abrandou a porrada, eis que ressurgem na praça pública a mostrar desavergonhado repúdio pelo facto do Governo estar a preparar-se para utilizar uma grande parte da tal “pipa-de-massa-que-vem-mas-não-se-sabe-quando…” no reforço do investimento público, saúde incluída. O tal setor que referiam não ter meios para enfrentar uma pandemia e que necessitava urgentemente de dinheiro. Que eles ou os seus antecessores nas lideranças partidárias, ao longo dos anos sempre desprezaram defendendo até o desinvestimento a favor da iniciativa privada na área da Saúde! Num resumo-resumido, o pensamento desses líderes políticos foi mais ou menos assim: Queremos tudo privado, ou o mais possível, mas graças a Deus que havia o público, embora com poucos meios e escasso investimento, como sempre defendemos, para nos salvar…”
Balha-me Deus!
ATÉ O GASPAR…
Hoje estou virado para esta coisa do investimento. O nosso Vítor Gaspar (lembram-se?), agora diretor de assuntos orçamentais no FMI, escreveu há dias no blogue da instituição que “as baixas taxas de juro a nível mundial também sinalizam que o tempo é certo para investir. As poupanças são muitas, o setor privado está em ‘modo de espera’, e muitas pessoas estão desempregadas e disponíveis para trabalhar em empregos criados pelo investimento público”. Refere ainda Vítor Gaspar que “o investimento privado está deprimido…” e que agora é o tempo para se fazer “investimento público de alta qualidade”, que pode ter um papel central na recuperação e gerar, diretamente, entre dois e oito empregos por cada milhão de dólares investido em infraestrutura tradicional, e cinco e 14 empregos por cada milhão gasto em pesquisa e desenvolvimento, eletricidade ‘verde’ e edifícios eficientes”. Muito provavelmente nem Rui Rio nem Chicão lerão este texto. O meu. Mas se alguém lhes puder fazer chegar o link da notícia do jornal de negócios, aqui o deixo: https://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/vitor-gaspar-juros-baixos-sinalizam-tempo-certo-para-o-investimento-publico.
Balha-me Deus!