O abraço entre o Sofrimento e a Vida

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“Keep talking” é o título de uma canção dos Pink Floyd, cantada por Stephen William Hawking, fundamentada numa frase ou pensamento seu: “As maiores realizações da humanidade surgiram de conversas e os maiores fracassos da falta delas.”

Stephen Hawking foi um físico teórico e cosmológico reconhecido internacionalmente como um dos maiores cientistas do século. Curiosamente, nasceu no mesmo mês e no mesmo ano em que eu nasci, e quase no mesmo dia, 8 de Janeiro de 1942. Faleceu há dois anos e eu ainda por cá ando a falar e a conversar.

Por volta dos seus vinte anos foi-lhe diagnosticada uma doença neuronal motora precoce, conhecida por Esclerose Lateral Amiotrófica, que o foi deformando e paralisando gradualmente, fazendo-o perder todas as capacidades motoras incluindo a própria fala. Estoicamente, foi superando os maléficos efeitos da doença, valorizando ao máximo a sua portentosa mente, pondo-a ao mesmo tempo a comunicar através de um dispositivo mecânico. Casou duas vezes, teve filhos e netos.

Lutou heroicamente contra a doença, tentou tudo para se mostrar feliz durante mais de cinquenta anos e morreu aos setenta e seis anos sem nunca se lamentar, segundo consta. Faleceu em sua casa, de morte natural, por complicações desta irrecuperável doença degenerativa, no começo de uma manhã de Março, mês de Renovação. Disse a família que morrera em paz.

“Keep talking” é o que eu pretendo com este texto, na sequência daquele que escrevi sobre a morte de Luís Marques. Continuar a falar, acima de tudo a falar sobre o que diariamente nos consome, nos reduz ao nada ou nos eleva ao sublime. É conversando, como diz Stephen Hawking, que muitas vezes surgem as verdades.

Dois grandes homens, homens de Ciência, de mentes profundamente criadoras, irmanados no infortúnio, com sofrimentos diferentes que lhes moldaram a vida, ao ponto de encararem a felicidade da forma mais relativa e pessoal que só eles podiam imaginar.

Retiro daqui uma grande verdade: querer viver pode ser igual a querer morrer. Só o valor e o sentido da Vida podem escolher o tempo de existir.

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