Devido à decisão da câmara de não transferir competências para a junta
A presidente da junta de freguesia, Helena Couto, decidiu abandonar o Partido Socialista. “Decidi tomar esta decisão face à não transferência de competências adotada por parte do senhor presidente da câmara Jorge Sequeira”, revelou Helena Couto ao labor.
“Continuo, como sempre, com o PS, que é o partido que tem valores com os quais me identifico, mas não em algumas decisões. Não tenho nenhuma guerra com o PS, mas é uma questão de coerência”, afirmou a presidente da junta que sempre defendeu a transferência de competências. A seu ver, “não fazia sentido fazer parte de uma estrutura local e distrital que não seja a favor da delegação de competências” quando “em termos globais o próprio partido defende essa transferência”.
Para Helena Couto não faz sentido este tipo de decisão “estar dependente da pessoa que está à frente da câmara seja ela de que partido for” e acredita que é “uma questão de tempo” até que esta decisão seja automaticamente tomada por uma lei.
Acerca deste assunto “não modifiquei a minha posição”, reforçou a presidente da junta em declarações exclusivas ao nosso jornal.
Por sua vez, Rodolfo Andrade, líder da estrutural local socialista, considerou como “legítima” a desfiliação de Helena Couto do partido, com a ressalva de que tal “não lhe retira responsabilidade política,” algo “que não duvido que continuará a ter”.
Tendo em conta o que a levou a tomar esta decisão, “o partido acha que atendendo às atuais circunstâncias – a pandemia e a incerteza no que diz respeito à despesa e receita – a decisão tomada pela câmara municipal foi a melhor”, defendeu Rodolfo Andrade, recusando a ideia de que com esta decisão estaria a contrariar a posição adotada pelo partido no mandato anterior em que defendia a transferência de competências junto da câmara municipal liderada pelo PSD e posteriormente pela coligação PSD/CDS-PP.
“A nossa posição não mudou porque continuamos a favor da descentralização e da delegação de competências. O que achamos é que esta é uma decisão política que tem de ser analisada e tomada com precaução devido ao impacto que tem nas finanças da câmara”, declarou o líder da estrutura local socialista ao labor.
Apesar de Helena Couto e Jorge Sequeira não terem chegado “a um consenso” sobre este assunto, “não há motivo para criar o alarme social e político que está a ser feito pelo PSD”, assumiu Rodolfo Andrade, preferindo destacar a boa relação existente entre a junta de freguesia, a concelhia e a câmara. Este é um mandato que tem sido “marcado” pela “boa relação” entre a junta e a câmara através da cedência de novas instalações à freguesia nos Paços da Cultura, ao Centro de Fisioterapia no Centro Coordenador de Transportes, de um autocarro, entre outras, indicou. “Não tenho memória de um executivo camarário que tenha feito tanto em prol da junta de freguesia”, concluiu o líder dos socialistas ao labor.
Dois mandatos depois, a junta volta a perder esta luta
Relembramos que Helena Couto foi eleita presidente da junta de freguesia como independente, apoiada pelo Partido Socialista, nas eleições autárquicas de 2013, tendo se tornado militante depois de ter sido eleita para um segundo mandato nas eleições autárquicas de 2017. No seu primeiro mandato à frente da junta de freguesia, Helena Couto travou uma luta com o presidente da câmara de então, Ricardo Figueiredo, eleito primeiro pelo PSD e depois em intercalares pela coligação PSD/CDS-PP, precisamente pela transferência de competências. Uma luta que perdeu uma vez que nunca chegaram a reunir-se para discutir sobre o assunto que sempre teve o apoio dos socialistas eleitos e da concelhia do partido. Um mandato depois, referimo-nos ao atual, em que a junta de freguesia continuou a ser liderada pelos socialistas, a câmara municipal também passou a ter um executivo com a mesma cor política. Ao contrário do que aconteceu com Ricardo Figueiredo, Helena Couto teve a oportunidade de discutir a delegação de competências com o atual presidente da câmara, Jorge Sequeira, mas este acabou por decidir, pelo menos para já, que não o vai fazer.