“Na primeira vaga sofremos um duro golpe. Na segunda, vamos ver quem consegue manter os negócios”, disse Domingos Ribeiro, gerente do restaurante Bacana, ao labor
O aumento do número de casos de infeção por Covid-19 levou o Governo a determinar mais medidas especiais para os 121 concelhos de alto risco, onde S. João da Madeira está incluído, e um novo estado de emergência. Se a restauração já estava a sofrer com o encerramento às 22h30 imposto pelo estado de calamidade, agora ainda mais sofrerá. O novo estado de emergência limita a circulação na via pública entre as 23h00 e as 5h00 durante a semana e a partir das 13h00 aos sábados e domingos, exceto em alguns casos (ver caixa).
Os almoços têm de ser preparados e servidos muito mais cedo ao fim de semana em todos os casos desde o do cliente que quer comer no restaurante, aquele que levanta a encomenda e até ao que espera pela entrega em casa. Uma vez mais “temos de nos adaptar. Já tínhamos alguma logística na entrega ao domicílio. Neste momento, possivelmente vamos reforçar mais”, afirmou Domingos Ribeiro, gerente do restaurante Bacana, ao nosso jornal, esta segunda-feira, admitindo estar “à espera” de “informações” para ver se, para além do funcionamento do serviço de sala até às 22h30 durante a semana, podem continuar a funcionar com o regime de entrega ao domicílio até à uma da manhã, tal como era possível durante o estado de calamidade. Para o gerente de um dos restaurantes mais antigos da cidade, “uma maior e melhor comunicação é fundamental. Nós sabemos que as pessoas andam muito confusas”. O sentimento que impera por estes dias é o de “esperança que isto passe rapidamente para que possamos voltar à normalidade”, assumiu Domingos Ribeiro, não querendo sequer pensar na possibilidade do Governo prolongar estas medidas para combater o aumento do número de casos de infeção de Covid-19. “Espero que não. Desde março estamos numa luta constante. Na primeira vaga sofremos um duro golpe. Na segunda, vamos ver quem consegue manter os negócios com todo este processo. Não vai ser fácil”, afirmou o gerente do Bacana ao labor.
Depois de ter estado dois meses com as portas fechadas, reabrir com obras à entrada da sua segunda casa que sustenta a primeira e agora ter de cumprir mais medidas que afetam sobretudo a restauração, José Silvério descreveu 2020 como “um ano muito difícil”. Para o gerente da Taberna do Zé “não faz sentido mandarem fechar os restaurantes quando estes trabalham com todas as regras de segurança e higiene”. O primeiro-ministro António Costa anunciou esta segunda-feira que o Governo vai aprovar esta semana um pacote específico de apoio à restauração dos concelhos mais atingidos pela Covid-19 para compensar a receita que estes estabelecimentos vão perder nos dois próximos fins de semana.
“Vai originar concentração de pessoas de manhã em vez de se espalharem ao longo do dia”
Com as novas regras os estabelecimentos comerciais também viram os seus horários ficar reduzidos e logo ao fim de semana que é quando a maior parte das pessoas tende a ir visitá-los. “Desde que entrámos em confinamento as quebras foram mesmo muito grandes. Para cima dos 50%. Nunca mais recuperámos”, revelou Paulo Monteiro, gerente da Ubox, dando como exemplo “o agosto que é sempre um mês muito bom na nossa casa porque estamos ligados ao desporto e à praia, mas este ano não se viu os resultados que se costuma ver nesses meses”. Já o comércio online “ajudou um pouco”, mas “nota-se que está a quebrar também”. E tudo isto está relacionado. “Como as pessoas não saem, não têm motivos para fazer compras”, o que leva a que apenas façam “compras quando têm necessidade” como prendas ou para substituir peças que já não servem às crianças, ficando para segundo plano as compras de adulto, deu a conhecer.
Paulo Monteiro acredita que a redução do horário não vai influenciar a evolução do número de casos porque o maior perigo não está num estabelecimento onde o cliente tem de usar máscara, desinfetar as mãos e manter o distanciamento, um cuidado que a seu ver não é tido em convívios com amigos ou familiares. A redução do horário “vai originar maior concentração de pessoas de manhã em vez de se espalharem ao longo do dia”, mas não é por esta medida que “vamos ter melhores resultados a nível da pandemia”. “Acho que a maior probabilidade de contágio não é no comércio onde têm de cumprir todas as regras, mas onde nos sentimos mais à vontade com um amigo, um familiar”, considerou o gerente da Ubox. Apesar destas medidas prejudicarem sempre o comércio, “a acontecer alguma coisa que seja este mês que costuma ser mais calmo porque as pessoas já estão a pensar no Natal e aguardam pelo próximo mês para fazer compras”, explicou Paulo Monteiro, não tendo dúvidas de que “se isto acontecesse em dezembro era a mesma coisa que dizer que em janeiro podemos fechar as portas”.
“A solução é a adaptação” como “fechar mais tarde à sexta e abrir ao domingo de manhã”
A redução do horário de funcionamento aos fins de semana também afeta os cabeleireiros e espaços de beleza que têm um maior número de pessoas e consequentemente de faturação ao sábado. É certo que “muita gente procura o cabeleireiro ao sábado”, mas “as nossas clientes também vêm muito durante a semana”, sobretudo desde a pandemia que “procuram fazer os trabalhos técnicos durante a semana”, contou Marta Santos, gerente do cabeleireiro com o mesmo nome, ao labor.
“Acho que não é com estas novas medidas que vai melhorar, mas eles é que mandam e temos de respeitar”, reconheceu a cabeleireira que como tem um espaço com 200 metros quadrados consegue ter 10 pessoas dentro do salão, o que é sempre uma vantagem sobre quem tem espaços pequenos. Em relação às novas medidas que limitam o funcionamento do cabeleireiro ao sábado à tarde, “a solução é a adaptação”, o que no seu caso significa, caso haja necessidade, “fechar mais tarde à sexta-feira e abrir ao domingo de manhã”, adiantou Marta Santos. “Não sei se vai ter o mesmo rendimento porque a manhã passa mais rápido, mas podíamos estar piores se tivéssemos de fechar,” como aconteceu no início da pandemia, considerou a cabeleireira ao labor.
Reações
Associação vai sugerir propostas
de apoio à câmara
“As medidas de recolhimento obrigatório e a redução do horário com encerramento às 13h00 aos fins de semana é um grande golpe para o comércio e a restauração. A economia local sofre um retrocesso com consequências bastantes penalizadoras.
Atualmente existem dados estatísticos que apontam que 90,1% dos restaurantes apresentam agora perdas superiores a 50% da faturação e, um dado ainda mais preocupante, quase metade dos restaurantes (48,1%) sentem perdas superiores a 90% da faturação homóloga.
No caso da restauração, na maioria dos casos, o fim de semana suportava 70% da faturação semanal, com estas medidas a redução é drástica.
Após seis meses quase perdidos, o setor da restauração depositava uma réstia de esperança neste último trimestre. Depois de conhecidas as novas medidas, antecipam-se, até ao final do ano, ainda mais dificuldades, imprevisibilidades e incertezas ao negócio.
A Associação Comercial, juntamente com os setores associados, vai avaliando o impacto das medidas e das preocupações mais prioritárias que vão surgindo. As imprevisibilidades das medidas não ajudam em nada a definição de estratégias comerciais, mas, como é óbvio, a iniciativa de uma adaptação do próprio negócio parte sempre do empresário. A Associação Comercial está a preparar um documento com algumas propostas de ajuda e incentivo para fazer chegar à autarquia. Em breve damos conhecimento.”.
Paulo Barreira
Presidente da Associação Comercial e Indústria de S. João da Madeira
Câmara poderá renovar apoios em 2021
“Vamos analisar e acompanhar a situação que agora é diferente. Numa altura em que o encerramento do comércio e da restauração foi a 100%, apoiámos com a isenção do pagamento de tarifas da fatura água e isentámos o pagamento de taxas de esplanadas e publicidade até ao fim do ano. Vamos esperar pelas medidas do Governo, mas se for preciso vamos renovar os apoios no orçamento de 2021”, adiantou Jorge Sequeira ao labor.
“O vírus circula ativamente na comunidade. A situação é manifestamente crítica. É fundamental reduzir a progressão do contágio sob pena dos serviços de saúde, públicos, empresas e demais atividades económicas e sociais ficarem comprometidos. Apelo ao pleno cumprimento das normas do estado de emergência. Recordo cinco regras de prevenção: usar máscara, lavar frequentemente as mãos, manter o distanciamento, observar regras de etiqueta respiratória e instalar a aplicação. O vírus não faz pausas em circunstância alguma. Mesmo nos encontros familiares devemos usar máscara e manter o distanciamento. Se tiverem sintomas devem contactar imediatamente as autoridades de saúde. Queria deixar um reconhecimento ao esforço hercúleo dos profissionais de saúde, das forças segurança, do pessoal docente, dos auxiliares de ação educativa e dos agentes proteção civil. Proteja-se a si e aos outros”, disse o presidente através de uma mensagem publicada segunda-feira à noite na rede social Facebook da câmara.
Jorge Sequeira
Presidente da Câmara Municipal de S. João da Madeira
Medidas do novo estado de emergência
Em vigor desde o dia 9 de novembro nos 121 concelhos de alto risco, onde S. João da Madeira está incluído
- Limitação de circulação na via pública entre as 23h00 e as 5h00 durante a semana e a partir das 13h00 aos sábados e aos domingos, exceto:
– Para trabalhar (sendo necessária uma declaração emitida pela entidade empregadora, pelos próprios no caso de trabalhadores independentes, empresários em nome individual ou um compromisso de honra no caso de trabalhadores do setor agrícola, pecuário e pescas);
– Por motivos de saúde (estabelecimentos de saúde ou farmácias);
– Para acolhimento de emergência (vítima de violência doméstica, tráfico, bem como de crianças e jovens em risco);
– Para assistência a pessoas vulneráveis, com deficiência, filhos, pais, idosos ou dependentes;
– Para cumprimento de responsabilidades parentais;
– Para passeios higiénicos de animais de companhia;
– Para ir a mercearias e a supermercados ou outros estabelecimentos de venda de produtos alimentares e higiene para pessoas e animais;
– Para ir a urgências veterinárias;
– No regresso a casa das deslocações permitidas.
- Possibilidade de realizar medições de temperatura corporal no acesso a locais de trabalho, estabelecimentos de ensino, meios de transporte, espaços comerciais, culturais e desportivos.
- Possibilidade de exigir testes de diagnóstico em estabelecimentos de saúde, lares, estabelecimentos de ensino, entrada e saída de território continental, estabelecimentos prisionais e outros locais determinados pela Direção-geral da Saúde.
- A possibilidade de requisitar recursos, meios e estabelecimentos de saúde dos setores privado e social, após tentativa de acordo e mediante justa compensação.
- A mobilização de recursos humanos para reforço da capacidade de rastreamento.
Estas medidas acrescem às que já estavam em vigor desde o dia 4 de novembro que podem ser consultadas na edição anterior do labor