“Operadores pontuais” preferiam a solução encontrada há anos quando o Mercado Municipal também já esteve em obras

 

“Peço a Deus que esteja enxuto até ao meio-dia ou até só às 11h00 e parece que Deus me tem ouvido”, confidenciou ao labor Maria Rosa Ribeiro. Esta vendedora de hortaliças e legumes tem 70 anos e já vende no Mercado Municipal há mais de seis décadas.

Ainda “pequenita”, Maria Rosa Ribeiro vinha a pé com a sua mãe de S. Martinho da Gândara, freguesia do concelho de Oliveira de Azeméis, para S. João da Madeira. Trazia “um carrego grande”, que é como quem diz “quatro molhadas de cebolo”.

Até aos dias de hoje esta são martinhense tem dado continuidade ao negócio iniciado pela mãe. O labor encontrou-a no passado dia 14 a vender em frente ao Mercado Municipal atualmente em obras. Recorde-se que o prazo previsto para a execução dos trabalhos é de um ano.

Maria Rosa Ribeiro faz parte do conjunto de “operadores pontuais” que vendem aos sábados de manhã e que a câmara transferiu temporariamente para o exterior do edifício. Não só para com ela como para os restantes vendedores do “Mercado de Rua”, a autarquia está em falta, uma vez que lhes prometeu melhores condições desde a primeira edição, em julho último, que tardam a chegar.

Maria Rosa Ribeiro e os colegas contam apenas com um guarda-sol, que também serve de guarda-chuva quando chove, como aconteceu no último sábado. Solução que, em seu entender, não é viável para o inverno que está quase aí.

“Era melhor a outra solução”, defendeu a lavradeira, referindo-se às “barraquinhas cobertas que puseram daquele lado [na Avenida Engo Arantes Oliveira]” quando o Mercado Municipal foi pela primeira vez intervencionado.

“É pena não haver um ‘toldozinho’ para nos cobrir. Não seria assim tão difícil pôr um toldo por aqui abaixo, mas pronto”, acrescentou a vendedora que naquele momento estava debaixo do guarda-sol/chuva para não se molhar.

“COM A CHUVA AS CONDIÇÕES SÃO PÉSSIMAS”

Não muito longe dali, a nossa reportagem trocou impressões com Vítor Silva, de 45 anos, que estava a ajudar a mãe, Maria Hermínia Valente Reis, a vender também hortaliças e legumes.

Tal como a “vizinha”, estes vendedores de S. Vicente de Pereira (Ovar), que vendem no Mercado Municipal há oito anos, não estão satisfeitos com o facto de já terem vendido ao calor e nos próximos meses terem de vender à chuva.

“A hortaliça é um produto fresco e muito sensível ao calor, logo no verão perdemos qualidade. E agora com a chuva as condições são péssimas”, afirmou Vítor Silva, acrescen- tando: “Já tentámos junto da câmara que se encontrasse uma solução mais atrativa para nós, mas até agora nada. Isto acaba por nos desanimar”.

“DEVÍAMOS TER OUTRO TIPO DE TRATAMENTO”

Uns metros mais à frente estava Regina Oliveira, de 56 anos e de S. Martinho da Gândara. Também ela vende hortaliças e legumes e também ela defendeu que “devíamos ter outro tipo de tratamento” por parte de quem manda no Mercado Municipal. Porque, como justificou, “pagamos lugar como as pessoas que estão lá dentro”.

Não é que, de acordo com esta monitora de formação profissional e vendedora aos sábados de manhã, “não se vende benzinho cá fora”. Só que, conforme descreveu, “as pessoas dizem que não tem jeito nenhum quando está a chover porque nós molhamo-nos, elas molham-se e as coisas ficam todas molhadas”.

À semelhança de outros “operadores pontuais”, Regina Oliveira é do tempo da “antiga solução”, que na sua opinião “era melhor”. “Sentíamo-nos mais seguras e com melhores condições”, completou.

Rosa Reis, de 66 anos, também de S. Martinho da Gândara, reforçou a ideia da sua conterrânea: “Daquele lado até estávamos bem. A antiga solução era melhor. Aqui, apanhamos chuva nas costas”.

“ISTO NÃO TEM JEITO NENHUM. É DE BRADAR AOS CÉUS”

Contrariamente a outra vendedora de animais vivos que não quis conversa por estar “gelada com tanto frio e a chuva”, como a própria disse, Amália Martins, de 55 anos, falou com o labor junto à carrinha com galinhas, galos e frangos que tinha estacionada na Avenida Engo Arantes Oliveira.

Ela e o funcionário vendem naquele local “há meses”, ao ar livre, só com um toldo que com o vento vai pelo ar. Aliás, “na sexta-feira passada, [o dito toldo] foi parar à estrada. Por sorte, não houve nenhum acidente”, contou Amália Martins, cujo negócio começou com a mãe há mais de 60 anos.

Quanto à atual situação, esta vendedora de Chave (Arouca) sublinhou que “isto não tem jeito nenhum. É de bradar aos céus”, concretizando: “Não temos luz para tirar as faturas. Temos o carregador na carrinha. Não temos água para meter à bicharada, que com tanto vento constipa-se toda”.

Câmara assegura que “vai haver uma solução”

Sem entrar em pormenores, Jorge Sequeira, quando questionado pelo labor sobre o assunto, assegurou que “vai haver uma solução para o problema”, “como, aliás, sempre foi dito e garantido”.

Ao nosso jornal, o autarca disse ainda que “estão já em curso procedimentos” no sentido de proporcionar melhores condições e “conforto” aos vendedores do “Mercado de Rua” neste inverno.

 

Clientes alertam para perigo da circulação de trânsito

Nesta ida ao “Mercado de Rua”, que já se faz em S. João da Madeira desde julho passado, o labor encontrou clientes solidários com os seus vendedores de longa data.

Segundo Elza Soares, que vem todos os sábados ao mercado, “quando vier aquele vento e chuva forte elas não podem estar aqui”. “No verão tudo bem, mas no inverno isto não tem condições”, reforçou a ideia esta cliente habitual.

Já Elvira Silva chamou à atenção para o facto de o local não ter “condições para as pessoas com mobilidade reduzida”. Na sua opinião, “passar aqui o trânsito enquanto decorre o mercado não é muito viável, tanto para clientes como para vendedores”, pondo em risco a sua segurança.

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