Não queria acreditar quando li a entrevista do Senhor Presidente da Câmara ao Jornal labor. Queixava-se do trabalho que lhe deu resolver problemas que as Câmaras geridas pelo PSD lhe tinham deixado. A primeira grande complicação foi registar os novos lotes de terreno resultantes da ampliação da Zona Industrial das Travessas. As Câmaras anteriores tinham-se limitado a idealizar a obra, a fazer o projeto, a negociar os terrenos, a fazer expropriações, a executar as obras (arruamentos, água, saneamento, gás, eletricidade…), a pagar as obras, mas vejam bem, deixaram a esta Câmara o pesado encargo de efetuar o registo dos terrenos. Ou seja: esta Câmara encontrou tudo feito, mas faltava registar os lotes. Que trabalheira!
Qualquer novo Presidente que encontrasse as obras feitas, só faltando o registo, agradeceria aos antecessores esta prenda de poder vender 10 (dez) lotes de terreno, encaixar centenas de milhares de euros sem ter posto um cêntimo nas obras. Mas este Presidente ainda se queixa.
E quando ainda estava mal recuperado da trabalheira que deve ter sido registar os novos lotes, teve de se meter noutra tarefa palpitante. Era preciso definir as obrigações das Águas de S. João e da Câmara Municipal através de um contrato de gestão delegada.
Por isso, ele, Presidente da Câmara, Jorge Sequeira, teve de negociar com o Presidente do Conselho de Administração das Águas de S. João, Jorge Sequeira, o contrato de gestão delegada dos serviços das Águas e Saneamento.
Deve ter sido demorado e difícil conseguir marcar as reuniões e chegar a acordo entre o Presidente da Câmara, Jorge Sequeira, e o Presidente das Águas de S. João, Jorge Sequeira. O problema é que, no final de tão árduo trabalho, não se sentiram vantagens para os Sanjoanenses: nem a água baixou de preço, nem a sua qualidade melhorou.
É um problema quando os responsáveis políticos centram a sua atividade em trabalhos burocráticos, em formalidades e perdem a noção do que é essencial e estruturante.
Ficam bem à vista as motivações do Presidente da Câmara: como não tem obra relevante para mostrar, tenta convencer os Sanjoanenses que não fez mais porque andou a reparar e resolver problemas que lhe deixaram as Câmaras anteriores. Tem a sua razão: faltava registar as obras feitas e pagas, faltava receber o dinheiro da venda dos lotes e faltava assinar um documento negocial entre o Presidente da Câmara e Jorge Sequeira.
Desta vez o Senhor Presidente da Câmara abusou. Levou em pequena conta a inteligência dos Sanjoanenses.
Se alguma utilidade esta entrevista teve foi mostrar como o Presidente da Câmara se contenta com muito pouco. Gosta é de papéis, burocracia e formalidades. Mas, para isso a Câmara tem advogados. Precisamos de um Presidente para pensar mais além, inovar, ser arrojado, que tenha ambição para a cidade e deixe de pensar pequenino.
Ficamos todos esclarecidos quando ele próprio afirmou que a iniciativa que melhor marcou o seu mandato foi o investimento numa cadeira de dentista. Estamos conversados.
Nota do Diretor
Se alguma utilidade esta entrevista teve…
A presidente da estrutura do PSD local resolveu reagir à entrevista que o presidente da câmara deu ao labor com a “carta aberta” acima publicada e não como “direito de resposta”. Com essa opção decidiu publicar este texto nos dois jornais locais muito embora, admitamo-lo, tivesse sido mais curial fazê-lo – para já – só no jornal que a publicou de modo a atingir o mesmo universo de (e)leitores. Se nada temos a ver quanto à generalidade do conteúdo político, já a referência à eventual “utilidade” da entrevista – e só essa – merece-nos uma nota específica porquanto, ao afirmá-lo, coloca em causa a utilidade de qualquer entrevista e desvaloriza intencionalmente o trabalho da jornalista por ela responsável. O que, convenhamos, nada abona a favor da credibilidade pública da presidente do PSD local e, eventualmente, putativa candidata à presidência nas próximas autárquicas. É que todas as entrevistas são úteis. E duvidar da utilidade desta entrevista é quase dizer que terá sido inútil e que – depreende-se – no seu entender só seriam úteis as entrevistas cujos entrevistados ou respostas fossem do seu agrado. Sabemos que não será assim e acreditamos que a afirmação em causa terá sido um lamentável lapso linguístico da presidente do PSD local ou de quem com ela, em nome da estrutura, terá colaborado na sua redação.
Nos anteriores mandatos foram raríssimas as entrevistas conseguidas com os então presidentes, todos eleitos pelo PSD. Quando se conseguia solicitar uma entrevista a esses presidentes a resposta-tipo era “desculpem mas já temos um compromisso com outro jornal…”. E se não tinham, arranjavam. Parece que havia receio da qualidade das profissionais do labor e da eventual incomodidade de algumas questões. Nestes 3 últimos anos, felizmente para a democracia e para a informação do público, sabemos que essa dificuldade nunca se colocou a qualquer dos jornais locais. E essas, as que nos foram sempre simpaticamente recusadas, teriam sido também muito úteis. Esta, conseguida pelas vias normais através do gabinete de imprensa da câmara, sem favores ou influências, também o foi de tal maneira que serviu, pelo menos – e agora o sublinhado irónico é nosso – para fazer com que a presidente e/ou a estrutura do PSD local tenha acordado da letargia e do sono profundo em que têm estado nestes 3 anos. E enquanto o D. Sebastião não chega, já é um dado positivo.
Pedro Silva
Diretor do Jornal Labor