Pandemia adia cerca de 30 casamentos na paróquia de S. João da Madeira
Em 2020, na Paróquia de S. João da Madeira, ainda só se realizaram dois casamentos – um em junho e outro em setembro -, estando agendado um terceiro para dezembro. Um número reduzido quando comparado com os 26 matrimónios celebrados em 2019 e que se deve à crise pandémica que já estamos a viver há largos meses e que obriga ao cumprimento de uma série de restrições.
Segundo o pároco, por causa da Covid-19, cerca de 30 casais decidiram adiar, este ano, o casamento. Decisão que, “se pensarmos na dimensão festiva que estes acontecimentos têm”, é – no entender do Padre Álvaro Rocha – “a mais sensata”.
ANA E PEDRO JÁ ADIARAM O CASAMENTO DUAS VEZES

“Não haver abraços, não haver toque, não poder dançar” naquele que desejam que seja um dos dias mais importantes das suas vidas é coisa que não cabe na cabeça de Ana Magalhães e de Pedro Vieira. Estes dois sanjoanenses – ela com 31 anos e ele com 43 – querem ter um casamento de sonho. Nem que para isso tenham de esperar o tempo que for necessário.
Com a celebração religiosa e a festa inicialmente marcadas para 6 de junho por “ser um mês em que não está muito frio nem muito calor e também por ser o aniversário de um amigo nosso”, este casal achou por bem adiá-las para 24 de outubro. Mas também não foi desta que se casaram, dado o agravamento da pandemia. Agora preferem aguardar por melhores dias e só depois escolherem nova data.
“Vamos esperar que chegue a vacina, que comece a vacinação, preferimos esperar até ter segurança, não sabendo ainda se remarcámos para 2021 ou até só para 2022”, disseram à nossa reportagem.
Ana e Pedro conheceram-se há 14 anos, em agosto, nos campos de férias da Associação de Jovens Ecos Urbanos, onde os dois trabalhavam. Namoram há 13 anos e vivem juntos há sete. A ideia de “dar o nó” partiu de Pedro. Por ser um romântico assumido e também por se tratar de “valores que me transmitiram e que quero transmitir [aos futuros filhos]”.
Não é que Ana não seja igualmente romântica, mas da sua parte “não havia tanta necessidade de casar”, porque, como a própria confidenciou ao nosso semanário, “já estamos mais do que casados”. Só que quando Pedro lhe pediu em casamento a 20 de fevereiro de 2019, dia em que faziam anos de namoro, aceitou sem hesitar.
O casal teve “pouco mais de um ano para preparar as coisas”. Quando surgiram os primeiros casos da doença no país, já tinham decidido que seria na Quinta da Costeira (Vila de Carregosa, concelho de Oliveira de Azeméis), local onde a mãe de Pedro chegou a brincar em criança, que iam casar e fazer a boda e que seria o Padre Álvaro Rocha a celebrar o casamento. Além disso, Ana já tinha comprado o vestido e “andávamos a entregar os convites”. Aliás, há pessoas que ainda não receberam os convites (idealizados e feitos pelos noivos) em mãos.
“ESTE É UM DIA QUE QUEREMOS PARTILHAR COM AS PESSOAS. SEM ELAS NÃO FAZ SENTIDO”
“Este é um dia que queremos partilhar com as pessoas. Sem elas não faz sentido”, afirmaram Ana e Pedro referindo-se aos seus 180 convidados, entre os quais muitas crianças. Aliás, foi sobretudo por eles que tomaram a decisão que tomaram.
“Era impossível andarmos lá de máscaras, termos de manter distâncias de segurança ou não nos podermos abraçar”, contou Pedro, acrescentando que “os nossos amigos já dizem que o nosso casamento vai ser a festa de despedida deste ano terrível [2020]”.
“CASAMENTO DE FAZ DE CONTA” NO DIA 6 DE JUNHO
Pedro não quis deixar passar em branco a primeira data que escolheram para casar. E, por isso, preparou uma surpresa para Ana.
Durante a madrugada de 6 de junho, Pedro decorou o apartamento onde vivem a preceito, arranjou “uma coroa de flores” para a noiva e “um tramelo” para ele e quando Ana acor- dou de manhã “casaram”. Mais um momento vivido a dois para juntar a tantos outros, também inesquecíveis, que fazem questão de vir a partilhar com os lhos e netos.
“NÃO É O FIM DO MUNDO, PORQUE JÁ VIVEMOS UM COM O OUTRO, MAS…”

Sara Costa e Ruben Silva, ambos com 29 anos e de S. João da Madeira, são outro dos casais com o casamento de sonho, para já, guardado na gaveta. Iam casar a 8 de agosto, mas também a pandemia lhes trocou as voltas. Acabaram por remarcar para precisamente um ano depois, contudo, e ainda no próprio dia fizeram uma sessão fotográfica com o fotógrafo Carlos Santos numa praia do Norte “para mais tarde recordar”.
A 8 de agosto de 2021 esperam finalmente vir a casar pela mão do Padre Álvaro Rocha na Capela de Nossa Senhora dos Milagres, onde os pais e a irmã mais velha de Sara também casaram. Mas a escolha do Parque de Nossa Senhora dos Milagres para “palco” daquele que será um dos acontecimentos mais marcantes da sua história de amor se deve ao facto de ali também terem namorado “muito”. “Temos boas recordações daquele parque”, sublinhou Sara.
Sara e Ruben conheceram-se há 11 anos. Ruben convidou Sara para um café, que no início não lhe deu muita confiança, mas depois lá foi cedendo aos seus encantos. Começaram a namorar passado cerca de um ano.
Ruben foi o primeiro namorado de Sara. E também é Ruben que vai concretizar um dos seus sonhos. “Sempre tive o sonho de casar, de fazer uma festa para partilhar o nosso amor com a família e amigos”, vincou Sara, recordando ainda a surpresa que Ruben fez quando lhe pediu em casamento há dois anos, no dia 21 de julho.
Tal como Ana e Pedro, também estes dois jovens sanjoanenses se consideram “já casados”, uma vez que “temos o mais importante, que é a partilha do dia a dia”. Aliás, na sua opinião, o terem de adiar o casamento devido à Covid “não é o fim do mundo, porque já vivemos um com o outro, mas…”.
Há sempre um “mas”: “além do momento da igreja ser importante por sermos católicos”, Sara e Ruben querem festejar o dia com a família e os amigos. Contas feitas por alto, serão à volta de 140 convidados, alguns dos quais provenientes do estrangeiro.
“OPTÁMOS POR NÃO CASAR PARA NÃO PÔR AS PESSOAS EM RISCO”
Ruben acreditou “até às últimas” que ia casar este ano, mas com o passar do tempo e a evolução da situação epidemiológica “optámos [em maio] por não casar para não pôr as pessoas em risco”. No entender dos noivos, esta “foi uma decisão muito sensata e consciente do que se estava a passar”.
Até porque “não é um cancelar, mas [antes] um adiar”. Sara garantiu que “não vamos baixar os braços” e que simplesmente não querem que o dia seja lembrado pelo uso de máscaras nem por outras regras ditadas pela Direção-Geral da Saúde.