Que pelo Pai Natal é habitada e por quebra-nozes é guardada
Há uma “casa encantada” que todos os anos se transforma não só por dentro, mas sobretudo por fora durante a época de Natal.
A casa de que estamos a falar é a número 197 na Avenida António Henriques em S. João da Madeira.
Por ter literalmente um Pai Natal gigante que todos os anos, nos últimos 30, nunca falha uma visita à varanda rumo à chaminé, ficou conhecida como “A Casa do Pai Natal”. Quando foi comprado “era o único no país”, garantiu Flores Santos Leite, durante a visita guiada que nos fez à “casa encantada” onde mora desde que casou com a sua esposa Maria José, que carinhosamente trata por Zeza, que ali nasceu, cresceu e sempre viveu. “Desde criança que a minha casa esteve decorada só que não tanto como agora”, disse Maria José sobre esta que é uma tradição de família, recordando que a decoração interior é feita há 80 anos, idade da casa que foi dos seus pais, e a exterior começou há cerca de 30. O Natal é “a época mais bonita do ano e uma época muito especial porque traz a magia da família em que as pessoas tendem a ser melhores”, considerou a matriarca do clã cujo espírito natalício tem datas de início e fim muito simbólicas. A 23 de novembro, dia de aniversário de Maria José, a decoração está feita e as luzes são ligadas. O encantamento da casa dura até 6 de janeiro, dia de aniversário de um dos filhos, quando as luzes são desligadas e a decoração é recolhida. A tradição interior sempre existiu e é composta por várias centenas de motivos natalícios espalhados pelas divisões da casa. Entre esses estão 208 presépios de várias partes do mundo. Uns comprados em viagens, outros dados. Um dos presépios é uma espécie de aldeia com casas, carrosséis, pista de gelo e até um comboio que todos os anos é montado pelos familiares. Mais uma tradição de família que inclui uma outra, a da criação dos ornamentos da decoração exterior que normalmente é inspirada em viagens. A inspiração deste ano foi no romance natalício “O Quebra Nozes e o Rei dos Camundongos” de E.T.A. Hoffman, adaptado por Alexandre Dumas que inspirou o compositor Piotr Ilitch Tchaikovsky a criar seu terceiro e último ballet “O Quebra Nozes”. À exceção dos toros que foram ganhar forma ao carpinteiro, todo o resto desde a pintura até aos acessórios foi feito pela família. “Não se gastou dinheiro nenhum. Foi tudo feito aqui na varanda que foi transformada em oficina. Estivemos a trabalhar desde setembro aos fins de semana”, contou Maria José. “Isto é uma magia e uma casa que inspira. Tudo aqui tem vida”, completou Flores Santos Leite ao labor.
A decoração deste ano é “a mais bonita de todas” por ser “a mais original” e “a mais trabalhosa”, confidenciou o casal. Se por um lado “os outros é que podem fazer a avaliação” sobre a decoração da casa. Por outro, “em consciência é a mais bem decorada de S. João da Madeira e arredores”, afirmaram Flores Santos Leite e Maria José. A prova da singularidade da “casa encantada”, da “Casa do Pai Natal” ou como lhe queiramos chamar está nas inúmeras visitas de anónimos que não resistem em tirar fotografias e fazer vídeos e até de muitas escolas. “Não nos importamos. Ficamos muito satisfeitos” porque demonstra que a casa passou a ser “uma referência e um marco” pela sua magia que a todos quantos por lá passam contagia, confessou o casal ao labor.
Concurso de decoração de casas devia ser retomado
O concurso que convidava os moradores a decorar o exterior das suas habitações é uma das tradições que o casal Maria José e Flores Santos Leite gostava de ver recuperada pela câmara municipal sanjoanense. “No tempo do Dr. Castro de Almeida a câmara convidava os sanjoanenses a participarem na ornamentação das casas e estabelecia um prémio para as melhores”, recordou Maria José, lamentando que se tenha “perdido a tradição” que a seu ver “devia ser recuperada”. “A câmara devia estimular mais a decoração das casas e até das rotundas”, concluiu Flores Santos Leite.
“Não podemos fazer futurismos”
O Natal vai ser com menos pessoas à mesa, mas nem por isso com menos cuidados. “Vamos todos fazer o teste”, revelou Maria José ao nosso jornal.
Em relação às previsões para o próximo ano, “não podemos fazer futurismo”, preferiu Flores Santos Leite, médico que continua a dar consultas no consultório que tem desde 1951 no Largo de Santo António. Neste momento o que temos são “mais dúvidas do que certezas” e um longo caminho a percorrer até que “haja uma retoma económica e social”, disse Flores Santos Leite.
O que devemos ter é “esperança que vá passar”, afirmou Maria José. “A esperança da esperança é uma desesperança”, mas concordando com a sua esposa, Flores Santos Leite defendeu que temos de continuar a viver com cuidados. Só desta forma é possível “fugir ao pânico coletivo do domínio do medo que é o que governa e o que está a governar”.