São João da Madeira, que modelo de cidade?

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Para não fazeres ofensas e

teres dias felizes,

não digas tudo o que pensas,

mas pensa tudo o que dizes.

Sem que o discurso eu pedisse,

Ele falou; e eu escutei,

Gostei do que ele não disse;

Do que disse não gostei.

António Aleixo

 

A arte urbana como forma de promoção da cidade

Nos últimos anos temos assistido a diversas iniciativas de produção de peças de arte urbana ou de mobiliário urbano criativo. Estas iniciativas são de extrema importância para a consolidação da imagem de marca da cidade. Em S. João da Madeira já há bons exemplos, como os bancos de jardim em forma de lápis ou a street art que evoca memórias da nossa cidade (obras produzidas no âmbito da excelente iniciativa “Circuito de Arte Urbana” do Hat Weekend).

É importante continuar, reforçar e ampliar esta aposta no sentido de valorizar o património cultural da cidade e reforçar a sua marca como cidade cultural. Atrevo-me, por isso, a sugerir que seja tida em conta a poesia como forma de homenagear o festival literário “Poesia à Mesa”, disponibilizando paredes a artistas urbanos para que as possam “poesiar”. No mesmo sentido, parece-me que poderiam ser realizados murais dedicados ao romance “Unhas Negras”, como forma de homenagear a literatura de sanjoanenses e sobre sanjoanenses.

O importante é que, ao contrário do que foi feito pelo anterior executivo, todas estas obras sejam devidamente preservadas e promovidas.

Um dos maiores vultos internacionais da street art, o artista Vhils, “escavou e desenhou” paredes em S. João da Madeira, criando um mural que retrata rostos da antiga fábrica da Oliva. Segundo disse na altura o próprio artista, “a ideia foi de alguma maneira tentar criar um paralelismo entre o “marketing” que existia à volta da Oliva a partir das fotografias de trabalhadores antigos da fábrica”, acrescentando que “quis cravá-los no muro que ainda existe, de modo a destacar uma série de pessoas que nunca foram valorizadas pelo “marketing””.

Esta obra foi paga pelo dinheiro dos São-Joanenses e nunca teve o destaque merecido (a não ser no dia da sua inauguração): nem um simples holofote que a iluminasse com a dignidade que merecia. Pior do que isso, nunca foi devidamente protegida (nem um ano depois já se encontrava deteriorada), desperdiçando-se assim aquela que poderia e deveria ser uma obra âncora para a importante construção de uma marca identitária… ou não estivéssemos perante o trabalho de um dos mais conceituados artistas de arte urbana no panorama mundial.

Conhecido em todo o mundo como Vihls, este artista desenvolveu uma linguagem visual singular com base na remoção das camadas superficiais de paredes e outros suportes através de ferramentas e técnicas não convencionais. Cidades em todo o mundo exibem, orgulhosas, o seu trabalho e fazem do seu trabalho uma importante bandeira para vender a cidade.

São João da Madeira pareceu ignorar o seu trabalho desde o dia em que foi feito.

Lá porque para alguns “começou a campanha eleitoral” não vale tudo

Também eu li com muita atenção a entrevista do jornal “O Regional” à Sra. Diretora de Cultura do Centro e ex-chefe de Divisão da Cultura da Câmara Municipal de São João da Madeira, Doutora Suzana Menezes. Devo confessar que não consigo encontrar qualquer razão para se inferir que esta manifesta qualquer lamentação relativamente à estratégia seguida pelo atual executivo camarário. Pelo contrário. Vejamos o que diz a entrevistada:

“…o município tem uma boa equipa na cultura capaz de “dar conta do recado…”

“…de resto, estamos a falar de instituições muito bem alicerçadas, quer tecnicamente, quer cientificamente e, neste momento, coordenadas por pessoas bem preparadas…”

“…do que tenho conseguido acompanhar o município tem feito um esforço no sentido de manter alguma programação cultural, quer nos museus que têm vindo a abrir novas exposições, como é o caso da belíssima exposição da Paula Rego ou da inquietante exposição “A verdade dói”, quer na Casa da Criatividade que recebeu muito recentemente a Adriana Calcanhoto (…) e segundo sei, durante o período de Natal o Município vai, também, apresentar uma programação que envolve a comunidade artística e este tipo de iniciativas são, nestes tempos que vivemos, absolutamente estruturantes, quer para os públicos, quer, naturalmente, para os artistas.”

“…fui eu quem fez o Plano Estratégico de Cultura do Município que se encontra parcialmente publicado no web site da transparência (…) Trata-se, como é evidente, de um documento dinâmico que deve ser permanentemente atualizado (…) De qualquer modo, penso que estão aí os fundamentos principais para que a Câmara Municipal possa dar continuidade a essa estratégia e, eventualmente, aprofundá-la.”

Ora, resulta claro que quem aqui conseguiu ver uma qualquer divergência com a estratégia do município ou está com grande dificuldade de compreensão e interpretação ou está imbuído de uma enorme desonestidade intelectual.

Tenho por princípio alguma desconfiança com os indivíduos que mudam continuamente de opinião ou de ideias segundo os seus interesses e essa desconfiança aumenta quando adicionalmente se tentam pôr “em bicos de pés” na vã esperança de que reparem neles, quem sabe com o secreto (ou nem por isso) desejo de um dia serem vistos como potenciais candidatos a um lugar no executivo camarário.

Porém, diz-nos a história, este tipo de comportamento está normalmente condenado ao insucesso e é, frequentemente, mal visto por todos, inclusive pelos seus (momentaneamente) pares.

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