2020 foi um ano terrível, que colocou à prova toda a humanidade. Foi um ano difícil, de luta e de luto. Ficará cravadona história como o ano da pandemia e, em consequência disso, como o ano de maior quebra na economia global desde o fim da 2ª Guerra Mundial. Nesta minha primeira referência aos desafios para o ano que agora iniciou, dedico a minha atenção ao panorama nacional.
O primeiro desafio passa, naturalmente, por travar a pandemia. Ainda que o surgimento recente das vacinas permita antecipar uma evolução favorável da pandemia nos próximos meses, tal deverá apenas acontecer entre o 2º e o 3º trimestre de 2021, prevendo-se aí uma redução do número de internamentos e do número de mortes e a retoma progressiva à normalidade. Até lá, apenas precisamos que o Estado vacine dois terços da população, que nos permita chegar à imunidade de grupo e retomar, rapidamente, a normalidade.
Evidentemente que, com a chegada da vacina – e com a confiança que daí advém –, começam a criar-se as condições para aquele que é o segundo desafio: a retoma económica.
O momento é extremamente exigente. Em termos muito gerais, Portugal deverá atingir uma quebra de mais de 8% no PIB – o dobro da quebra no PIB mundial –, em resultado da quebra que existiu no setor do turismo (que representa 15%(!) do PIB português), mas também pela proximidade e forte ligação comercial a outras economias europeias também afetadas. A juntar a estes fatores, a dívida pública não para de crescer.
O 1º trimestre será desafiante em termos económicos. Apesar da vacina, haverá ainda necessidade de se implementarem mais algumas medidas sanitárias, à medida que os custos sociais da pandemia vão agravando a realidade económica das pessoas, das famílias e das empresas. E é, por isso, importante que se mantenha intacta a capacidade produtiva dos setores mais afetados e a manutenção dos apoios aos mesmos. Como só no 3º trimestre se prevê o início da recuperação económica e o regresso da atividade turística, precisamos até lá do setor privado a funcionar, e bem, e a recuperar, muito e depressa. Precisamos de indústria que crie valor, que faça aumentar a produtividade e os salários.
Desengane-se quem pensa que os 58 mil milhões de euros (cerca de 26 mil milhões são do Plano de Recuperação Europeu, a tal “bazuca europeia”) que chegarão a Portugal até 2029 servirão para meter tudo na ordem. Na verdade, a visão estratégica para o Plano de Recuperação Económica deve ser implementada para focar o esforço e o investimento, sendo os fundos europeus usados como uma ajuda à concretização do plano estratégico e não como o propósito de tal plano. Só com uma afetação eficiente desse dinheiro poderemos augurar uma recuperação rápida e eficiente da nossa economia.
Para isso precisamos também de uma presidência forte. Durante o presente mês, Portugal escolherá o Presidente da República para os próximos 5 anos. O terceiro desafio prende-se, portanto, com as Eleições Presidenciaise com a escolha de alguém que terá a difícil tarefa de tentar impedir que Portugal continue a caminhar – como tem feito até agora – para ser o país mais pobre da Europa.
E aqui a questão não é só política. É também uma questão de atitude. Precisamos de um Presidente atento, interventivo e que mantenha o interesse nacional acima dos interesses partidários. Precisamos de um Presidente que dignifique a função e em que os portugueses confiem. E, nos últimos tempos, os políticos têm feito muito pouco para merecer essa confiança. E é por isso que considero as Eleições Presidenciais como um desafio, também para mim que, como tantos outros, ainda não sei em quem votar.
Em suma, creio que éponto assente que 2021 será um ano de desafios e oportunidades. Aquilo que precisamos é que o novo ano nos traga força, esperança e coragem para continuarmos a lutar. Desejo, a todos sem exceção, um excelente ano 2021!