Verdades e Mentiras

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Lá porque para alguns “começou a campanha eleitoral” não vale tudo!

Li, com enorme perplexidade, algumas afirmações proferidas por dois destacados políticos locais. É tão grande a minha perplexidade que tenho dificuldade em adjetivar estas afirmações. Será ignorância? Desconhecimento? Desonestidade intelectual? Deixo ao leitor essa difícil tarefa.

As afirmações são as seguintes:

A cultura apareceu em São João da Madeira, a cultura não existia, a política cultural era totalmente vazia” – Líder da banca do PS na assembleia municipal.

Os anteriores executivos tiveram outras prioridades de requalificar espaços, estruturar espaços onde hoje acontece cultura” – Deputado do PSD à assembleia municipal.

Devo dizer que não sei qual destas é a pior afirmação.

Comecei a consumir cultura em São João da Madeira em 2003, quando teve lugar a primeira edição do festival literário Poesia à Mesa, que com o decorrer dos anos se tornou reconhecidamente num dos maiores e melhores festivais literários do País. No âmbito deste festival, e ao longo de 17 anos, muitas foram as iniciativas de caráter cultural que tiveram lugar, algumas das quais bem arrojadas e inovadoras.

Em 2005 dá-se a abertura do Museu da Chapelaria. Com a abertura deste museu vieram as exposições nacionais e internacionais, os debates, as conferências, as atividades educativas que tornaram o museu numa referência a nível nacional, com programação de elevada qualidade e rigor nos últimos 15 anos.

Ainda em 2005 abriu os Paços da Cultura, com uma programação consistente e ininterrupta até aos dias de hoje e recebendo no seu palco grandes espetáculos. São 15 anos de atividade em prol da cultura da cidade.

Desde a sua primeira edição, em 2007, o Festival de Teatro, não sendo uma iniciativa da Câmara Municipal (mas é fortemente apoiada pelo Município) não deixa de ser uma atividade cultural que nos últimos 13 anos tem contribuído para uma dinamização da atividade teatral em S. João da Madeira e para a criação de públicos para a cultura.

Em 2008 teve lugar aquele que na minha opinião foi um dos melhores acontecimentos culturais da cidade e que por via disso se tornou num momento de viragem na política cultural da cidade, o Hat Weekend. Nunca como até então, um evento cultural da cidade tinha tido tamanha cobertura mediática, tendo, entretanto, sido realizadas mais duas edições.

Em 2012 são dados os primeiros passos para a criação daquela que viria ser (ao tempo) uma referência nas indústrias culturais e criativas no plano internacional, a Oliva Creative Factory. Seria impossível, no espaço desta crónica, enumerar toda a atividade cultural e de lazer levada a cabo na Oliva nestes 9 anos.

Em 2013 é inaugurada a Casa da Criatividade. São já 8 anos de programação constante e de elevada qualidade, de tal modo que a Casa da Criatividade é hoje uma referência nacional devido ao ecletismo da sua programação e à beleza da sala.

Em Novembro de 2016 é inaugurado o Museu do Calçado. São já 4 anos a promover a cidade, no País e no estrangeiro, como museu de excelência.

Isto dito, resulta claro que nem a Cultura começou com este executivo, nem esteve parada enquanto se construíam os espaços culturais.

Teria muito mais a dizer ou a lamentar, como seja o facto de estas afirmações serem (no mínimo) ofensivas para todos aqueles que ao longo dos anos deram e dão o melhor de si para que a cidade se afirme como uma cidade de cultura.

Mas por agora acho que fica claro a razão da minha perplexidade, que só não é maior porque, pela minha experiência pessoal como frequentador da maioria das atividades culturais da cidade, não me lembro de me ter cruzado com nenhum dos autores das afirmações em apreço, a não ser (talvez) naquelas que a agenda partidária determina.

Como disse Saramago, a verdade (pode até ser a de cada um) é apenas meio caminho. O importante é a credibilidade e esta não se ganha quando se dizem meias verdades ou deliberadamente se adultera a realidade dos factos. Não me parece que qualquer político que tenha ambições deva trilhar esse caminho (das meias verdades), porque a realidade não é alterável conforme os interesses de cada um e haverá sempre alguém pronto a repor a verdade dos factos. Precisamente aquela que dá credibilidade.

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