A minha coluna

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ESPELHO? QUAL ESPELHO?

Um dos conceitos que apreendemos com a pandemia foi o do trabalho “em espelho”. Dirigido fundamentalmente a empresas em que os trabalhadores executam as tarefas em espaços com ocupação múltipla, a ideia foi dividir as equipas em grupos menores fazendo com que metade da equipa fique no escritório enquanto a outra fica em teletrabalho. E vice-versa. Com esta medida a aglomeração de pessoas no mesmo local diminui, bem como a probabilidade de transmissão do famoso vírus. Tal como o teletrabalho, não é um conceito de aplicação generalizada porque há profissões, como os motoristas, em que a profissão só pode ser exercida presencialmente. Há uns tempos, numa fila de um supermercado não pude evitar ouvir uma conversa entre duas senhoras que estavam à minha frente. Dizia uma que o marido, funcionário da câmara, estava em casa em metade de cada dia. “Pois, é um problema. Assim só ganha metade…” dizia, pesarosa, a interlocutora. “Não!”, sossegou-a a outra. “Ele está em casa, mas pagam-lhe o salário todo. Está em espelho por causa da pandemia”. A diária alteração das condições e da busca de soluções para novos problemas fez com que este assunto tivesse ficado no limbo. Até há dias. Quando um amigo (não era o meu gato preto, não…) contava o quanto tinha estranhado que uma equipa de trabalhadores municipais que executava uns arranjos na rua frente a sua casa só aparecesse para trabalhar na parte da manhã. Na primeira oportunidade dirigiu-se a um dos trabalhadores e questionou: “Vocês têm outro trabalho urgente em curso? Como não vêm às tardes…”. A sorrir perante a falta de informação o trabalhador em causa explicou: “Não. Não temos. Estamos é a trabalhar em espelho. Só trabalhamos da parte da manhã ou da tarde”. Dias depois soubemos que não eram só esses a trabalhar “em espelho”. Os jardineiros, trabalhadores que mantêm, por definição, distanciamento social e trabalham ao ar livre, estavam em situação idêntica. E até os eletricistas. Há dias, numa instituição educativa da cidade um eletricista que estava só a mudar lâmpadas chegou ao final da manhã e disse que voltaria no dia seguinte para acabar. “Vai para outra escola, é? – perguntou a professora. “Não. Estou em espelho…”. Ora, aqui chegados, é altura de alguma preocupação. Quem está obrigado a ficar, por força legal, a teletrabalhar a partir de casa, encerrado, sofre já dos efeitos psicológicos secundários dessa situação como dizem os especialistas. Agora ficamos a saber que estes trabalhadores também são, desnecessariamente, obrigados a ficar a em casa, neste caso “ao espelho”, e acabarão também por sofrer efeitos psicológicos graves…. Será mesmo necessário? O trabalho ao ar livre e com distanciamento será assim tão perigoso? Das duas uma: Ou é ou não é. Só falta explicar. Ou será caso para sugerir aos responsáveis municipais por esta decisão que se vejam “ao espelho”?

Balha-me Deus!

E EU TENHO DE OS ATURAR?

Podem não acreditar, mas os meus gatos são fervorosos adeptos do labor. Do jornal. E evidenciam esse sentimento de várias formas. Quando estão mais ativos apanham um exemplar e entretêm-se a rasgá-lo com evidente prazer. E quando estão mais sonolentos gostam de tirar uma longa soneca em cima da pilha de jornais que tenho ali ao canto. O papel do jornal é “quentinho”. Talvez seja por isso. Mas recentemente reparei que me têm deixado de lado, sem estragar, uns recortes que falam muito dos alegados protetores dos animais. Dos que para os bichos andam sempre a pedir à câmara mais isto e mais aquilo, comida, alojamento, vacinas e, talvez um dia, férias pagas, num verdadeiro massacre do “animal humano”. Tenho a ligeira impressão de que os meus gatos são ainda muito mais espertos do que eu pensava e olham para mim com uma expressão como quem diz: Olha lá. Quando é que vais à câmara pedir para nos darem tudo aquilo a que temos direito? Há gente que não sai de cima e tu não dizes nada? Que raio de dono és tu?

Balha-me Deus!

HÁ QUE CORRER RISCOS…

Há outro assunto que me tem também criado algum constrangimento, mas já não tem a ver com os gatos. Tenho aqui em casa uma árvore que quero abater. É bonita, frondosa e tem umas folhas com muita cor, mas, pelo seu porte e perigo que ele representa, estou (quer dizer, estava…) com ideias de a deitar abaixo. E substituí-la por uma mais pequenina, também bonita e frondosa, mas com um porte mais adequado ao local. Só que, pelo que tenho lido, estou com receio. Parece que agora anda aí uma fobia de “naturalistas” a pugnar contra o abate de árvores só pelo simples facto de as abaterem. As árvores são como os outros seres vivos. Nascem e, um dia… pumba! Por causas naturais ou não. Sei que vou correr o risco de ter gente dessa, um dia, numa manifestação frente a minha casa a perguntar quem sou eu para mandar abater a minha árvore e a exigir o certificado fitossanitário, que não tenho. Mesmo assim estou decidido. Vou tratar de resolver o assunto à minha maneira e depois vê-se… Na vida há que ter a coragem de correr riscos…

Balha-me Deus!

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