A VANTAGEM DE TER UM GATO INTELIGENTE… E CULTO!
Os especialistas dizem que o confinamento não nos está a fazer bem e nós acabamos por ter de o reconhecer. Eu já reconheço. Numa das tardes do último fim de semana e sem saber como, dei por mim a visualizar a gravação da última sessão da assembleia municipal sempre acompanhado, obviamente, do meu gato preto, enrolado ao meu lado a tirar a sua valente soneca pós-almoço, sempre de orelhas guiadas como é seu hábito. Talvez por nostalgia do tempo que passei na assembleia assistindo (e também participando) em intermináveis discussões quase sempre sobre o nada, consegui aguentar até à intervenção de uma jovem deputada municipal cuja intervenção, bem na moda, se centrou sobre os animais. Acho até que, nos tempos de hoje, intervenção pública de agentes políticos locais que não aborde a questão da defesa dos animais (mais cães e gatos do que periquitos ou melros…) não tem impacto público. Acham alguns…. Adiante. Sobre os cães, animais que adoro, fiquei a saber que as matilhas se digladiam como gangues rivais em busca da comida, ao estilo de gangues de Nova Iorque e que a câmara vai ter de resolver o problema falando com quem sabe uma vez que na câmara não há ninguém especializado na temática “gangues de cães e suas lutas”. Nem aqui o meu gato levantou a cabeça. A seguir o tema passou para os gatos e aí o meu bicho, muito inteligente, aliás, percebeu e levantou ligeiramente a cabeça com um só olho aberto. E, como eu, teve oportunidade de escutar as críticas que a jovem deputada fez aos abrigos para gatos que a câmara está a instalar. Dizia que os gatos não gostavam daquilo, que estava mal concebido, que chovia lá dentro etc. O chover lá dentro não me surpreende. Parece que uma das especialidades da câmara, muito em particular das anteriores à atual, era fazer ou restaurar edifícios onde o “chover lá dentro” é a regra. Mas não estava à espera de que o atual executivo caísse no mesmo erro e logo nos abrigos para os gatos. Mas adiante. Acho que os tais abrigos não têm também aquecimento, têm a porta e janelas tortas, sem vidros, e isso deve ter sido também abordado na intervenção da jovem porque, nessa altura já o meu gato estava de pé, com o rabo no ar e a “zorrar” nas minhas pernas como costuma fazer quando quer comer ou ir lá fora.

Quando me levantei o bicho, estranhamente, dirigiu-se para uma pequena estante de livros e começou a arranhar a lombada de um livro como pedindo para o retirar. Como já nada me surpreende no meu gato, tirei o livro da estante e, para meu espanto, era um dos vários sobre História de Arte que comprei há anos para me documentar antes de visitar o Núcleo de Arte e este versava o Dadaísmo. E, de facto, aquela imagem do abrigo dos gatos tem o seu quê de arte, de rutura com conceitos geométricos tradicionais de que os gatos tanto gostam. Gostam? No entender do meu gato a obra que a câmara fez até devia ser considerada como um museu de arte para os gatos. Só que os bichos, incultos e indigentes, não percebem a grandeza do movimento e não apreciam entrar em tal abrigo. Não será pela porta e janelas estarem tortas? Ou será porque se estão nas tintas para os museus, os movimentos culturais e os abrigos e centros de acolhimento? Não será que os gatos querem é que, tal como muitas pessoas, encontrem quem lhes dê alimento e, eventualmente, colo?
Balha-me Deus!
MAIS DO MESMO?
Como referi ao de leve no texto anterior, o atual executivo herdou, entre outras coisas, um conjunto de edifícios a meter água. Desde o Pavilhão das Travessas às Escolas e Museus passando pela Biblioteca, Paços da Cultura e Palácio dos Condes é um sem fim de água a entrar pelos tetos em resultado de obras que no público têm de ser baratas, mas que, depois, acabam por custar dinheiro que não há. Pior ainda está o Palacete do “Rei da Farinha” onde funcionou o Centro de Arte. Há uns anos foi arranjado por fora, pintadinho, mas zero de obras dentro. O resultado é que tetos, pavimentos e escadaria principal estão podres. Foi agora anunciado que vem aí dinheiro para o recuperar e ali abrir mais um equipamento cultural. Resta saber se para o funcionamento do que aí vier há garantias de que existe dinheiro para os custos de funcionamento e manutenção que serão exigidos em anos futuros. É que, anteriormente, foram criados grandes elefantes culturais como Museus e núcleo de arte Oliva para cujo funcionamento decente o município não dispõe de recursos suficientes. Nem para pessoal, quanto mais para obras. Que o exemplo do passado seja apreendido pela atual câmara. Se assim não for podemos já levar as mãos à cabeça e começar a dizer…
Balha-me Deus!