E também nos restaurantes em regime de take-away

Depois de no ano passado a Covid-19 o “ter rachado a meio”, segundo palavras do presidente da câmara, o Festival Poesia à Mesa está de volta num novo formato, que vai custar aos cofres camarários cerca de 17 mil euros, valor “inferior” ao dos anos anteriores.

Em 2021, adaptando-se às restrições impostas pelo combate à doença que fez parar o mundo, aquele que, para Jorge Sequeira, é “um dos principais festivais de literatura dedicado à poesia do país” conta com uma programação exclusivamente online. Este que “era um festival dos restaurantes, da rua, das salas de espetáculo, da Biblioteca, das praças, dos terreiros, das multidões, é hoje um festival online”, através de transmissões pelas redes sociais do evento (Facebook /poesiaamesa e Instagram @festivalpoesiaamesa) e também do Município de S. João da Madeira.

Embora a semana forte desta campanha poética seja de 15 a 21 de março, o programa já arrancou no primeiro dia do mês com o concurso Poesia na Corda (ver coluna).

Pandemia não faz executivo “desistir da cultura”

Com esta reinvenção, “há aqui um propósito político muito forte do executivo camarário: não desistir da cultura, não permitir que esta marca, que esta tradição, desapareça, não obstante o contexto pandémico em que vivemos”, sublinhou o autarca, desejando ainda que “este festival seja um hino à beleza, palavra e esperança”.

Contrariamente a outros anos não pandémicos, a poesia não vai ser declamada nos restaurantes. Mas o evento mantém-se como um elo de ligação entre a cultura e a restauração, curiosamente, dois dos setores mais afetados pelas medidas restritivas que têm sido tomadas para evitar a propagação do novo coronavírus.

Aliás, uma das novidades deste festival promovido pela autarquia é a inclusão da poesia na ementa das refeições take-away servidas pelos restaurantes aderentes. Além disso, entre os suportes de comunicação, estão máscaras Covid-19 personalizadas com poemas que vão ser oferecidas à restauração (ver caixa).

Esta última quinta-feira, a apresentação da Poesia à Mesa aos jornalistas foi feita à distância, através da plataforma Zoom, com a participação dos dois comissários Paulo Condessa e José Fanha. Pelo meio, para grande surpresa de todos, ainda apareceu Mafalda Veiga, que integra o rol dos poetas homenageados deste ano e que se encontrava em S. João da Madeira para gravar a Matiné Poética – espetáculo que substituirá o tradicional Serão Poético e que, no Dia Mundial da Poesia, se espera que feche com chave de ouro esta 19ª edição do Festival Poesia à Mesa.

Em 2022, poetas galegos poderão ser incluídos e José Afonso poderá ser o cantautor escolhido

Por falar em poetas homenageados, “são os mesmos do ano passado”, ou seja, Mafalda Veiga, Andreia C. Faria, Fernando Assis Pacheco, Herberto Helder, Mário-Henrique Leiria e Soror Violante do Céu. Seis poetas que, de acordo com a coordenadora da Biblioteca Municipal (BM) Dr. Renato Araújo, “refletem uma seleção diversificada, desde cantautores a poetas muito conceituados”.

Desde o início do festival até agora “já foram homenageados 108 poetas”, informou Graça Neves, adiantando, de seguida, que, em 2022, a Poesia à Mesa poderá passar a incluir poetas galegos e que José Afonso, também conhecido por Zeca Afonso, poderá ser o cantautor escolhido, depois de Mafalda Veiga este ano.

“Esta seleção exige uma verificação para não haver repetições e depois também temos a questão dos direitos de autor, que têm de ser acautelados”, afirmou Graça Neves, mostrando assim que este trabalho, de grupo, não é tão fácil quanto alguns possam pensar.

Alinhando pelo mesmo diapasão, surgiu, minutos depois, Paulo Condessa também dando nota dessa “discussão de abrir o festival aos galegos”, que “ainda está quente”. “Vamos ver o que acontece para o ano e se não há nenhuma pandemia, como este ano, para nos atrapalhar”, salvaguardou o mediador de leitura e poeta, que, após ter visto quase todos os seus espetáculos cancelados devido à pandemia, está de regresso ao ativo com a Poesia à Mesa.

Ainda questionado, pelo labor, sobre se a cultura estava a ser devidamente apoiada pelo Governo, Paulo Condessa não se quis pronunciar “para não tirar o brilho ao nosso querido festival”.

Voltando a esta 19ª edição, Jorge Sequeira, por sua vez, não põe de parte a possibilidade de, caso haja “uma alteração das circunstâncias”, se realizar alguma iniciativa “numa casa de espetáculos”. Mas na altura em que foi interpelado sobre o assunto ainda não tinha condições para dar uma resposta concreta.

Na ocasião, o autarca fez questão ainda de agradecer “a toda a equipa que preparou este festival, equipa da Biblioteca Municipal, José Fonseca, Patrícia Correia, Graça Neves, Carla Relva e aos nossos dois grandes comissários, que são, no fundo, a alma deste festival: Paulo Condessa e José Fanha”.

 

Máscaras Covid personalizadas com poemas

Para além dos já habituais aventais, toalhetes de mesa, marcadores de livros, etc., haverá, entre os suportes de comunicação da edição deste ano do festival, também máscaras Covid-19 personalizadas com poemas. Aliás, na apresentação pública do evento, o comissário José Fanha chegou a declamar o poema “Carta Aberta”, da sua autoria, que, como explicou Patrícia Correia, da Biblioteca Municipal, “foi a base para o poema impresso nas [ditas] máscaras”.

Ainda a propósito desta novidade, as máscaras foram produzidas pela empresa sanjoanense Heliotextil, havendo dois tamanhos: um para criança e um para adulto. Além disso, vão ser distribuídas pelos restaurantes aderentes, podendo estes aguardar pela reabertura para as oferecer aos clientes ou, então, fazê-lo já, caso estejam a trabalhar em regime de take-away.

 

Programação online

Poesia na Corda – 1 a 21 de março

Embora a semana forte desta campanha poética seja de 15 a 21 de março, o programa já arrancou no primeiro dia do mês com Poesia na Corda. Este ano, o habitual “estendal” de poemas, escritos e pendurados por quem passa, vai ser substituído por uma participação digital.

Trata-se de um concurso aberto a todos e organizado pela Associação de Jovens Ecos Urbanos e pela Biblioteca Municipal Dr. Renato Araújo. Os temas a concurso são o ambiente, amor, indústria, comunidade e outros. Mais informações em www.ecosurbanos.ptehttp://sjmadeira.bibliopolis.info/.

Curtas Poéticas – 15 a 21 de março, 14h00 e 20h00

Num registo diário, Curtas Poéticas são minutos recheados com poesia. Fala-se do tema, do poeta ou do poema. Depois, o dito cujo é dito de forma desformatada. As performances ficam a cargo de Paulo Condessa, que também apresenta, e de “Dois Líricos” (duo com o guitarrista Sérgio Correia).

Poesia da Fábrica – 15 a 21 de março

Entre máquinas e ferramentas a poesia acontece, desta vez, pela voz dos trabalhadores das fábricas para o público em geral. Poesia da Fábrica é uma iniciativa diária que pretende interromper o normal dia de trabalho com performances poéticas especiais.

Exposição “Imagens, Signos e Escrita nas Coleções do Centro de Arte Oliva” – 19 de março a 15 de setembro 

Do programa deste festival literário consta ainda a exposição de Arte Contemporânea e Arte Bruta “Imagens, Signos e Escrita nas Coleções do Centro de Arte Oliva” que a Biblioteca Municipal acolherá até 15 de setembro.

Esta exposição explora a complexa e rica relação entre as artes visuais e a escrita, nos domínios da arte contemporânea e da arte bruta/outsider.

Reúne obras das coleções Norlinda e José Lima e Treger/SaintSilvestre, ambas em depósito no Centro de Arte Oliva, e aqui podemos observar múltiplas configurações e efeitos da escrita sobre a pintura, desenho e escultura na obra muito particular de cada um destes artistas: Albuquerque Mendes, Artur Cruzeiro Seixas, António Sena, Artur Moreira, Carlo Zinelli, Graça Pereira Coutinho, Harald Stoffers, Henri Michaux, Janko Domsic, Joana Rosa, Josef Rädler, Prophet Royal Robertson, Rui Chafes e Rui Serra.

Poetizando com José Fanha & Fernando Alves – 18 de março, 21h30

O que acontece quando dois amigos de longa data se sentam à mesa a conversar? Este é o desafio desta noite. Dois amigos: o poeta José Fanha e o radialista Fernando Alves, autor do programa Sinais e editor das manhãs da TSF. Uma conversa sobre a poesia em geral, as vidas dos poetas e em particular a poesia e as palavras de Fernando Assis Pacheco, um dos poetas homenageados na edição deste ano.

Vanguardas Poéticas com Ana Deus & João Paulo Esteves da Silva – 19 de março, 21h30

Esta é uma das novidades deste ano e que, em princípio, será para continuar. Trata-se de um espetáculo multidisciplinar que celebra a poesia com o espírito aberto e moderno do nosso tempo. Aqui há lugar para a palavra dita, mas também cantada, lugar para a música, a imagem, o ritmo, o improviso e a inovação, esta edição, com o ícone da cultura vanguardista, Ana Deus, e um dos maiores portentos do jazz, o pianista João Paulo Esteves da Silva.

Peregrinação Poética – 20 de março, 21h30

Assumindo-se como o maior momento de envolvimento comunitário do Festival Poesia à Mesa, a Peregrinação Poética contará, através da plataforma Zoom, com a participação de diversos grupos culturais, escolares e associativos da cidade e com a presença do poeta José Fanha. A coordenação pertence a Paulo Condessa.

Os participantes da edição de 2021 são: APROJ, Universidade Sénior, Associação Cultural Luís Lima, Fugas Poéticas, A Bem Dizer, Ecos Urbanos e TOJ. Devido às dificuldades que passou e tem passado devido à pandemia, a Cerci não participará da forma habitual, mas não deixará de contemplar o público com uma performance da autoria de Mariana Amorim que promete ser “comovente”.

Matiné Poética com Mafalda Veiga – 21 de março, 17h00

O Serão Poético, a noite mais aplaudida da Poesia à Mesa, foi reconfigurado e nesta edição surge como Matiné Poética. Em 2021 conta com a presença de uma das mais conceituadas cantautoras portuguesas, com uma carreira sólida e um legado de fãs inestimável, Mafalda Veiga, que celebrará a poesia no seu mais alto expoente.

Numa matiné informal, orientada pelo poeta José Fanha e o performer Paulo Condessa, da palavra dita à cantada, serão percorridos poemas escolhidos para serem ouvidos ao som da guitarra, e com a voz doce, de Mafalda Veiga.

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