A que extremos nós chegamos do afável cumprimento,

A que nos obrigou o “agente”, figura dos bastidores,

Para evitar o provável contágio neste momento,

Sempre eminente entre nós, os vulgares consumidores!

 

Já não falo dessas máscaras, da desinfeção constante,

Pel´uso de produtos que pesam na economia,

Mas pelos gestos equívocos no seu toque exuberante

Ao assumir-se outras formas que chocam pela bizarria…

 

Já se foram abraços, beijos, seriam armas letais,

Perdeu-se-lhe a blandícia dos afagos consumados,

Agora gestos mais rudes, gestos antinaturais,

Impostos pela mudança a que fomos obrigados…

 

E então postos em riste, os corpos giram de lado,

Erguem-se os braços ao alto numa real cotovelada,

Postos de frente uns p´ros outros olham-se desconfiados,

Mãos fechadas, braço à frente! Dispara-se uma “punhada”

 

Mais do que seres humanos, pareceremos um guerreiro,

Ou lutadores em posturas daquelas artes marciais

E o olhar arrevesado, confinado a tempo inteiro

Nesta luta que travámos: os Sapiens e outros mais…

 

Até se dão pontapés numa saudação amiga,

Pé em riste à frente vai procurar o pé ao lado,

Pois não quer usar as mãos onde outro gesto periga:

O contágio inevitável mesmo com o punho cerrado.

 

E assim vai este mundo vil, mesquinho, um fadário,

Contando todos os dias, como se fossem orações,

Que se erguem ao céu pedindo que acabe o nosso calvário

E que não chega, adiado por tão frágeis soluções.

DR

Flores Santos Leite

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