“Evento tem qualidade para ser exibido em qualquer fórum, sobretudo nas televisões que têm muito lixo no ar de vez em quando”, observou o presidente, Jorge Sequeira, ao labor

 

Depois da edição de 2020 da Poesia à Mesa ter sido cancelada devido à pandemia, a 19ª reinventou-se e regressou de 15 a 21 de março em formato online.

“A ideia que retenho é que o festival resistiu aos tempos difíceis que vivemos” graças à adaptação de todos os envolvidos, disse o presidente da câmara, Jorge Sequeira, ao labor quando lhe pedimos, esta segunda-feira, um balanço da edição deste ano que ficou marcada por “grandes momentos” que demonstraram que o digital foi “uma aposta ganha e muito importante para manter o festival vivo”.

A importância da presença física dos convidados e do público na Poesia à Mesa é inquestionável. Contudo, o formato online do festival veio validar a sua capacidade de chegar ainda a mais pessoas. O que levanta a questão de apostar já na edição seguinte, que assinala 20 anos de Poesia à Mesa, num formato presencial complementado pelas transmissões em direto nas redes sociais e quiçá em meios de comunicação como a televisão.

“O nosso desejo é que seja presencial, que tenhamos a Casa da Criatividade praticamente cheia no dia da Matiné e ver as ruas completamente ocupadas com pessoas na Peregrinação Poética”, afirmou Jorge Sequeira, não deixando de reconhecer que vão ter de ponderar a fusão que pode ser feita entre o presencial e o digital. “Vamos ter de pensar nisso. Penso que de facto vamos ter de conviver com o digital no futuro para alargar o espectro do festival”.

O autarca não tem dúvidas que momentos da Poesia à Mesa como o Poetizando, as Vanguardas Poéticas e a Matiné Poética têm potencial para ser exibidos, por exemplo, na televisão. “Na realidade, este evento tem qualidade para ser exibido em qualquer fórum, sobretudo nas televisões que têm muito lixo no ar de vez em quando”, observou Jorge Sequeira. A Poesia à Mesa celebra 20 anos em 2022 e a próxima edição está a ser pensada para que “seja um grande momento do festival”, revelou o autarca ao labor.

Formato digital permitiu “dar um salto” em termos de “memória gravada do percurso histórico da Poesia à Mesa” 

A decisão de manterem os poetas homenageados na edição do ano passado e preservarem todo o trabalho desenvolvido em torno deles “revelou-se certeira”, reconheceu Paulo Condessa, comissário da Poesia à Mesa. Os receios em relação à adesão das pessoas aos meios digitais e às próprias condições em que iam ser feitas as declamações da Peregrinação Poética, acabaram por ser superados. “No caso específico da Peregrinação Poética suplantou as expectativas de toda a gente”, admitiu Paulo Condessa, constatando que quer neste evento, quer em todos os outros do festival, as pessoas conseguiram encontrar uma solução e contornar a atual situação pandémica. A poesia nas fábricas e nas escolas também superou o que era esperado. A poesia nas fábricas esteve para ser sacrificada, mas “quando dissemos que íamos fazer gravações a adesão foi avassaladora”, revelou o comissário. Uma outra grande surpresa foi junto das escolas porque “em edições anteriores só costumávamos chegar ao 4º ano, mas este ano chegámos a todos”, destacou Paulo Condessa. Nesta edição, os estabelecimentos de restauração acabaram por ser os mais prejudicados devido à impossibilidade de serem levadas a cabo as declamações no seu interior. Ainda assim a poesia foi levada até aos seus clientes através dos materiais de promoção do evento como aventais, toalhetes de mesa, marcadores de livros, máscaras personalizadas, entre outros. Por todo o trabalho desenvolvido ao longo de todos os eventos para que pudessem ser transmitidos online, o comissário agradeceu à equipa Carlos Santos Fotografia e da Câmara Municipal de S. João da Madeira. Um trabalho que a seu ver deve ser tido em conta para futuras edições sempre como complemento ao formato presencial da Poesia à Mesa. “A meu ver nada substitui a presença física porque existimos para estarmos juntos. Contudo, o online permite que a cultura chegue a outras pessoas e geografias. É um complemento. Acho que tínhamos muito a ganhar”, admitiu Paulo Condessa. Além disso, o formato digital permitiu “dar um salto” em termos de “memória gravada do percurso histórico da Poesia à Mesa”, acrescentou o comissário.

Paulo Condessa concorda que os 20 anos da Poesia à Mesa em 2022 devem ser assinalados com “uma edição em grande”, mas tem que “ser preparada com antecedência” e neste momento “está dependente da imprevisibilidade” causada pela pandemia.

“Ambas as coisas são capazes de ter razão. Podem coincidir. Não têm de ser opostas”

Apesar da transformação que sofreu o festival deste ano, “correu muito bem. Foi, de facto, muito bom”, considerou José Fanha, também ele comissário da Poesia à Mesa, ao nosso jornal. Em relação à existência do formato presencial e digital na próxima ou em próximas edições, considera que “ambas as coisas são capazes de ter razão. Podem coincidir. Não têm de ser opostas”. Todavia, José Fanha deu a conhecer o seu receio em relação a esta era de revolução digital. “Há duas coisas que me preocupam: o uso excessivo do telemóvel e do computador. Acho que o excesso do online esteja a fazer um pouco mal às pessoas”, assumiu o comissário da Poesia à Mesa. “A leitura, o pensamento, o contacto, a conversa, a cultura e a partilha são muito importantes”, salientou José Fanha.

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