Mais de um ano depois da primeira suspensão da atividade desportiva, resultado do surto de Covid-19, a normalidade parece estar ainda longe de regressar. Mas se para as equipas profissionais ou equiparadas esta temporada marcou o regresso à competição e à atividade desportiva, ainda que de forma condicionada, para as amadoras a realidade é bem diferente. Para a Associação Desportiva e Recreativa Amigos da Visconde (ADRAV) está é uma época “completamente perdida”. Quem o garante é Filipe Talhas, presidente da coletividade, que depois de ter visto a temporada de 2019/2020 cancelada esperava que esta trouxesse alguma normalidade, mas a realidade foi bem diferente. “Estávamos a contar que esta situação que se vive fosse resolvida mais rápido e, por isso, em setembro começámos a falar com os jogadores para formarmos o plantel e dar início à época. Mas foi sol de pouca dura. Uma ou duas semanas depois, com os casos que entretanto foram surgindo, decidimos suspender a atividade”, explica o dirigente, garantindo que para a tomada de decisão pesou também o sentido de responsabilidade. “Mais importante que o desporto é a prevenção e a saúde das pessoas, mas acima de tudo está o respeito por todos os profissionais de saúde que diariamente colocam em risco as suas próprias vidas e dos seus familiares e, por isso, a ADRAV quis assumir, desde logo, uma posição de respeito para com todos os que estão na linha da frente na luta contra esta pandemia”, conta Filipe Talhas.
“A ADRAV quis assumir, desde logo, uma posição de respeito para com todos os que estão na linha da frente”
Com a maioria das competições suspensas há cerca de um ano, é ao nível da formação que as consequências da paragem de toda a atividade desportiva são mais visíveis. Sem treinos e sem competição, manter a motivação dos jovens tem sido um dos principais desafios dos clubes ao longo deste último ano e o dirigente reconhece isso mesmo. A competir exclusivamente no escalão sénior e num campeonato amador (INATEL), Filipe Talhas admite que a ADRAV vive uma posição mais confortável relativamente a outras coletividades, mas, ainda assim, não passa incólume às consequências da pandemia, que se refletem, nomeadamente, no aspeto financeiro. “No nosso caso trata-se de uma equipa sénior e o nosso foco, embora passe pela competição, tem uma componente muito grande de lazer, pelo que a paragem não tem grandes consequências desportivas para a ADRAV, ao contrário dos clubes que fomentam futebol juvenil, idades onde, por vários motivos, são mais visíveis os efeitos da suspensão. No entanto, vamo-nos ressentir economicamente da situação que se atravessa, tal como todos os clubes a nível nacional, independentemente do escalão e do patamar onde estão inseridos”, explica o dirigente, garantindo que as repercussões não se irão restringir apenas aos clubes. “O pós pandemia vai deixar muitas marcas económicas, não só nas associações, mas também nas câmaras municipais, empresas e, principalmente, no orçamento familiar”. E é ciente das dificuldades que tem pela frente, que Filipe Talhas assegura que a preocupação passa por “diversificar” e trabalhar para que a ADRAV não esteja dependente “da autarquia e de apenas duas ou três empresas”.
“Diversificar” e trabalhar para que a ADRAV não esteja dependente “da autarquia e de apenas duas ou três empresas”
Com a atual temporada a aproximar-se do fim, o dirigente refere que, atualmente, face ao momento de incerteza que se vive, ainda “não se trabalha na preparação da próxima época”. “Estamos a aguardar pelos desenvolvimentos no que diz respeito à evolução da situação e, principalmente, da vacinação, que poderá ser um dos fatores que poderá trazer alguma normalidade”, justifica o presidente da ADRAV, que olha com reserva para o futuro. “O mundo parou e tudo mudou. A partir de agora tudo será diferente e o futuro é uma incógnita. Quando pudermos regressar à atividade temos de aproveitar o que ficou e analisar de que forma podemos seguir em frente”, refere, admitindo que “será necessário adaptação a uma nova realidade”. “Devíamos aprender com a situação que se vive para que todos continuassem a manter o mesmo respeito pelas regras sanitárias”, concluiu Filipe Talhas.
Coletividade ganha sede em ano do 35.º aniversário
Apesar das contrariedades, fruto da pandemia, nem tudo tem sido negativo para ADRAV e 2021 vai ficar marcado pela conquista de um espaço na Casa das Associações, precisamente no ano em que a coletividade comemora o seu 35.º aniversário. O acordo com a Câmara Municipal de S. João da Madeira foi celebrado no passado mês de janeiro e para Filipe Talhas, presidente da coletividade, “foi uma prenda antecipada” e é o culminar de vários anos de trabalho. “Era uma meta pessoal, mas é resultado de uma conquista de todos, nomeadamente do anterior presidente, Silvério Pessoa, que sempre lutou para que a ADRAV tivesse uma sede própria”, explicou o dirigente da coletividade, que a 11 de junho assinala 35 anos de existência. “Era uma situação que causava grandes constrangimentos à coletividade, nomeadamente no que diz respeito à entrega de correspondência”, sublinhou Filipe Talhas destacando, em particular o empenho da vereadora Rosário Gestosa para a resolução da situação. “Mostrou-se sempre muito recetiva ao facto de não termos uma morada”, recorda.