As árvores são importantes para as cidades. Ponto. Creio que não será preciso dizer o que qualquer criança aprende desde cedo – que elas produzem oxigénio e purificam o ar, sendo essenciais para a vida -, por isso insistirei noutros aspetos para os quais as árvores são fundamentais.
Em tempos de emergência climática a arborização das cidades combate as alterações climáticas que ameaçam o planeta. As ondas de calor são cada vez mais frequentes, mas a
arborização do espaço urbano permite a regulação da temperatura das ruas e habitações. Os fenómenos meteorológicos extremos são cada vez mais frequentes, mas a existência de árvores em espaço urbano ajuda a prevenir cheias e inundações, permitindo a captação de água e reduzindo o escoamento artificial.
Se isto parece pouco, continuemos a inventariação: As árvores em contexto urbano promovem a qualidade de vida e a saúde física e mental das populações. Os espaços públicos tornam-se mais aprazíveis e isso, por si só, promove momentos de lazer e de descontração ao ar livre. Para além disso, filtram partículas poluentes e nocivas para a saúde. Em resumo: qualidade de vida numa cidade.
Mas mais do que isso: o arvoredo urbano tem impactos significativos na saúde da população. O que não faltam são estudos que ligam o contato com a natureza a uma melhor saúde mental e é relativamente recente um estudo que mostrava que os alunos apresentavam melhor saúde mental quando existiam espaços verdes na proximidade das escolas.
Admitindo que estas funções não são de somenos – oxigénio, temperatura, saúde e qualidade de vida parecem coisas importantes – só nos podemos espantar pela forma como as árvores são tão maltratadas no espaço público.
Em primeiro lugar, não se promove a plantação de árvores no espaço urbano; em segundo lugar, é com enorme displicência que responsáveis políticos decidem abater árvores com décadas de vida por uma simples razão estética ou por outra arbitrariedade qualquer; em terceiro lugar, as árvores são muitas vezes submetidas aos tratamentos mais incompetentes e agressivos, como as ‘podas’ que as tornam numa espécie de escultura de pedra e não num elemento vivo da cidade. Sim, as árvores são importantes e devem estar mais presentes na cidade. Não, as suas folhas não sujam; o que suja é a primazia do alcatrão e os escapes dos automóveis. Não, os seus galhos não incomodam nas fachadas dos prédios; o que incomoda são as ondas de calor que entram pelas casas dentro ou as
inundações dos espaços públicos.
O Bloco de Esquerda quer criar uma lei para que se inventarie o património arborizado dos municípios, para que se promovam boas práticas na plantação e tratamentos das árvores e para que se impeça abates injustificados e ‘podas’ que destroem por completo a árvore. Apresentou já um projeto na Assembleia da República para que essa lei venha a ser realidade.
Mas os municípios não precisam de esperar por uma lei para começar a ter uma abordagem inteligente no espaço urbano. São João da Madeira, por exemplo, não precisa de esperar por essa lei. Pode começar já a fazer o inventário do seu arvoredo urbano e pode (deve!) começar a identificar os espaços onde se procederá à plantação de novas árvores. Subtrair alguns espaços de estacionamento para nesses locais plantar árvores deve ser um caminho; criar corredores verdes, integrados num plano de mobilidade suave (como ciclovias e sistema de partilha de bicicletas, por exemplo), deve ser um caminho. Identificar locais na cidade onde se possam transformar largos, pracetas ou terrenos em pequenos jardins de proximidade, pode ser um caminho.
As soluções são muitas. A única coisa que não é solução é achar que as árvores, a qualidade de vida e o ambiente não são importantes para uma cidade.