Pergunta: O que era uma cidade para Platão?
Resposta curta: Cada qual tem uma tarefa a desempenhar, mas tem de haver luxo
Resposta longa:
“A República” de Platão publicada 379 A.C., ou seja, há 2400 anos (!) revela-nos a origem de uma cidade.
Assim descreve a certa altura: “ – Uma cidade tem a sua origem, segundo creio,
no facto de cada um de nós não ser auto-suficiente, mas sim necessitando de muita coisa“
Adiante Platão especifica melhor:
“… Como é que a cidade bastará para a obtenção de tantas coisas? Existirá outra solução que não seja haver um que seja lavrador, outro pedreiro, outro tecelão? “Acrescentar-lhe- emos também um sapateiro, ou outro qualquer artífice que se ocupe do que é relativo ao corpo?”
Platão põe ainda em questão:
“Uma pessoa fará melhor em trabalhar sozinho em muitos ofícios ou quando for um executar um?”
– Fundamentando melhor, diz “a obra não espera pelo lazer do obreiro, mas força que o obreiro acompanhe o seu trabalho, sem ser à maneira de um passatempo”.
– Depois Platão explica porque uma cidade não pode viver sobre si mesma talvez à mercê de bairrismos infundados:
– “Fundar uma cidade num lugar tal que não precisasse de importar nada é quase impossível. Precisará, pois, de outras pessoas ainda, que lhe tragam de outra cidade aquilo de que carece”.
– Platão descreve a cidade como uma conjugação de habitantes com diferentes funções, que se complementam entre si, cada qual no seu “ramo” profissional muito específico. Mas mesmo assim, todo esse conjunto de pessoas precisa de importar e exportar bens e produtos, para desse modo progredir. Assim se forma uma cidade sã.
– Mas para Platão tudo isso não chega pois tornar-se-ia uma cidade realmente “aborrecida”. Assim ele adianta que uma cidade precisa de ter luxos para se tornar uma cidade maior.
– Especificando, Platão faz a seguinte comparação:
– “É preciso ter na cidade uma multidão de pessoas que já não se encontra na cidade por ser necessária. É preciso artífices que fabriquem toda a espécie de utensílios, sobretudo adereços femininos. E ainda de pedagogos, amas, governantes, açafatas, cabeleireiros e ainda de cozinheiros e marchantes. E será ainda preciso de porqueiros”.
– É impressionante deparar que toda esta visão de cidade com 2.400 anos se pode ainda rever no conceito
de cidade atual.
– Nem tudo se resume ao que pensamos ser essencial para o funcionamento de uma cidade.
– É preciso haver espaço para o supérfluo, o luxo, enfim, o que parece não ser essencial para a cidade.
Nota importante:
“A República” do filósofo grego Platão é uma das maiores obras do pensamento europeu de sempre e aborda a justiça, a injustiça, a cidade e outros temas relevantes para a reflexão que se deve ter sobre a nossa sociedade através de diálogos de forma fácil de compreender.