Primeiro espetáculo da Casa da Criatividade pós desconfinamento já está esgotado
É já amanhã, dia 23 de abril, pelas 19h00, que a Casa da Criatividade recebe o primeiro espetáculo após ter estado meses fechada por causa do confinamento a que o país esteve sujeito devido à pandemia. Cabe à Orquestra Sem Fronteiras (OSF), dirigida pelo maestro Martim Sousa Tavares, as honras de reabrir “uma sala emblemática da cultura e da cidade”, como o próprio maestro disse ao labor.
Martim Sousa Tavares conhece a Casa da Criatividade há alguns anos. Aqui assistiu “a um concerto com a orquestra barroca da Casa da Música” e ficou “muito positivamente surpreendido”. Aliás, “por essa razão, a câmara de S. João da Madeira recebeu o nosso dossier de programação e foi com muito agrado que se verificou um interesse mútuo”, contou ao nosso jornal.
Esta sexta-feira, o maestro está de regresso a S. João da Madeira (SJM) com a OSF, que se apresenta pela primeira vez na cidade e no palco da Casa da Criatividade, com um Concerto de Primavera que assinala a estreia nacional e europeia da obra “Letters to Friends”, de Giya Kancheli, interpretada pelo violinista André Gaio Pereira.
Solista deste Concerto de Primavera, André Gaio Pereira foi nomeado Prémio Maestro Silva Pereira – Jovem Músico do Ano 2017 e tem atuado a solo com prestigiadas orquestras nacionais. Participou também em digressão por diferentes países como Japão, China, Itália, Alemanha, França, Áustria, etc., apresentando-se em algumas das mais conceituadas salas de espetáculos a nível internacional.
Segundo adiantou ao labor Martim Sousa Tavares, “será seguramente um concerto emotivo para todos – músico e público -, pela potência do reencontro, da presença humana e do significado que tem o simples ato de ir a um concerto. Algo que dávamos por garantido é hoje uma coisa de que sentimos tanta falta”.
Ainda de acordo com o maestro, o espetáculo “terá a duração de aproximadamente uma hora, sem intervalo, e irá incluir uma seleção de obras do compositor Giya Kancheli, natural da Geórgia, e muito pouco ou nada conhecido em Portugal”. “Estas obras nunca foram tocadas na Europa e creio que será só a segunda vez que vão ser tocadas desde que foram escritas”, chamou à atenção, esperando encontrar em SJM “um público numeroso e desejoso de se reencontrar com a presença da música feita ao vivo”.
Além de assinalar a reabertura da Casa da Criatividade, o Concerto de Primavera com a OSF insere-se também no programa municipal de comemorações do 47.º aniversário do 25 de Abril. Com entrada gratuita e lotação limitada para manutenção do distanciamento entre os espetadores, esgotou em pouco tempo.
Orquestra Sem Fronteiras já apoia mais de 200 jovens do interior do país
Com sede em Idanha-a-Nova (Castelo Branco), a Orquestra Sem Fronteiras nasceu em 2019 para cumprir uma missão híbrida e que cruza diversos campos: cultural, social, educacional, geográfico e até económico. A ideia é – como explicou quem a dirige – “ser uma plataforma de oportunidades, investir e criar valor a partir da cultura, dos jovens e do interior nacional e da cooperação transfronteiriça”. “Existimos para apoiar o talento jovem, mas também enriquecer o ecossistema cultural do nosso país e contribuir para um sempre maior desenvolvimento de públicos”, afirmou Martim Sousa Tavares, acrescentando que “a OSF tem cumprido exemplarmente a sua missão”.
Tanto que, desde a sua fundação, e ainda em 2019, obteve o estatuto de utilidade pública cultural, caracterizando-se “por ser um projeto para o bem comum que não depende de dinheiros públicos”. Conta com o “empenho da própria sociedade”, que é como quem diz com “os mecenas que nos apoiam e os jovens, famílias, professores e públicos que constituem o corpo humano deste projeto”.
Martim Sousa Tavares perdeu a conta ao “número exato de concertos” já realizados, mas aponta para quase a “meia centena”. A maior parte teve lugar no interior de Portugal, mas também em Espanha e Brasil. E “o futuro trará mais internacionalizações ainda este ano”, conforme adiantou o responsável.
Quanto ao número de elementos da OSF, “não temos músicos fixos, mas o universo de jovens que já apoiámos ultrapassa os 200”. “Trata-se de jovens músicos que são ou naturais do interior, ou residentes no interior, ou que estão por outras razões do seu percurso ligados a estes territórios. Trabalhamos com conservatórios, escolas profissionais, alunos de ensino superior, mas também aceitamos propostas de jovens que desejam ser incorporados na orquestra e que, por exemplo, tenham concluído o seu percurso de estudos recentemente”, esclareceu o maestro.
“Queremos ser mais do que apenas uma orquestra que toca concertos sinfónicos”
A Covid-19 apanhou o Mundo de surpresa, afetando tudo e todos. Mas a Orquestra Sem Fronteiras não se deixou desanimar. “Criámos um amplo leque de iniciativas que complementam a atividade orquestral”, entre as quais “um podcast mensal, um ambicioso programa de música em comunidade, que se chama Terra a Terra”. Nota ainda para um programa de agrupamentos de música de câmara em residência e a diversificação do leque de formações.
“É claro que tencionamos regressar aos concertos, mas estes investimentos vieram para ficar. Queremos ser mais do que apenas uma orquestra que toca concertos sinfónicos e iremos cada vez mais trabalhar nesse sentido”, garantiu o maestro.
Depois de S. João da Madeira, a OSF vai tocar o mesmo programa, no sábado seguinte, em Oliveira do Hospital. Entretanto, “o mês de maio trará muita música, com o nosso segundo ciclo de Maratonas com Orquestra de Bolso, atividades pedagógicas e de formação de públicos, concertos de música de câmara e iniciativas digitais”, rematou Martim Sousa Tavares.