Aquela manhã sorridente de Abril poderia ter tido outro desfecho, sangrento, medonho, matando o sonho para sempre. O rosto jovem e cândido de Salgueiro Maia entregando, com coragem e medo, o peito às balas, em defesa de um Povo, de uma Pátria é uma imagem arrepiante que sempre me faz soltar as lágrimas. Não há comemorações possíveis para a grandeza de tal acto. Há, porém, outro herói de Abril que me comove, o herói desconhecido, o cabo atirador que tinha na mira Salgueiro Maia.
José Alves Costa, o homem que teve ordem superior para matar, ordem dada pelo brigadeiro Junqueira dos Reis. Num momento de grande heroicidade, desobedeceu, não matou Salgueiro Maia, nem disparou sobre a sua coluna. “ A mais bela insubordinação do Vinte e Cinco de Abril!”.
São muitos os heróis de Abril, uns mais lembrados do que outros, mas todos cabem na memória colectiva deste povo. Como povo que sou, a minha homenagem a estes dois heróis, a todos os capitães de Abril, a todos os que sofreram e morreram pela Liberdade, e a todos quantos sonharam Abril. Saibamos honrar esses heróis, mantendo viva a ditosa Revolução dos Cravos.