Dia 10 de maio são abertas as propostas para contratação do estudo prévio do projeto de arquitetura
Já faltou mais para o Centro de Memória da Indústria, que irá ocupar o histórico Palacete da Quinta do Rei da Farinha, ser uma realidade.
No próximo dia 10, a câmara vai proceder à abertura das propostas para contratação do estudo prévio do projeto de arquitetura. Isto, depois de um concurso que foi lançado para o efeito “de acordo com um programa funcional para o qual a professora Fernanda Rollo deu o seu contributo”, adiantou Jorge Sequeira em declarações à imprensa local, no sábado passado.
No final da apresentação dos resultados dos Dias da Memória da Indústria na Casa da Criatividade, que assinalou o Dia do Trabalhador em S. João da Madeira, o presidente do Município agradeceu o “contributo” daquela docente universitária e avançou às jornalistas que “em breve” irá “designar uma comissão instaladora para ajudar a câmara a proceder à instalação do Centro de Memória da Indústria de acordo com requisitos científicos, técnicos e culturais adequados”.
Segundo o autarca, esta “decisão” “não será do presidente da câmara ou um capricho de qualquer pessoa, mas uma decisão estruturada por uma comissão de pessoas com formação adequada nessa matéria”. Fernanda Rollo, que além de catedrática é também coordenadora científica do programa Memória para Todos, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, será, aliás, convidada a integrar a dita comissão.
Uma das salas será dedicada à “história do próprio Rei da Farinha”
Questionado pelo labor sobre a data de abertura do Centro de Memória da Indústria e o valor total do investimento, Jorge Sequeira não foi concreto.
Neste momento, afirmou o edil, “os arquitetos vão apresentar um estudo prévio do projeto de arquitetura”. Seguir-se-á a fase da museologia, com a definição exata das “salas que vai ter (sala de exposição permanente, sala de exposição temporária), dos conteúdos que vão lá estar”. E, depois, a museografia, que passa por “saber como se mostrarão os conteúdos”.
“Já sabemos que uma sala vai ser sobre a história do próprio Rei da Farinha e do edifício, por exemplo. Em princípio, há de haver uma outra sala muito videográfica onde vão passar estas memórias ‘em loop’”, avançou o responsável político, referindo-se aos testemunhos que tinha acabado de ver e que foram recolhidos no âmbito dos Dias da Memória que foram realizados na cidade nos dias 17, 18 e 19 de janeiro de 2020.
Em relação ao custo, disse apenas que “vai custar umas centenas de milhares de euros”, sendo, em seu entender, ainda “prematuro avançar o valor”, uma vez que “o projeto de arquitetura é que vai ditar qual o tipo de materiais, tipo de soluções”, etc.. De qualquer modo, a questão do “financiamento da obra” está já a ser tratada pela autarquia.
De acordo com Fernanda Rollo, “S. João da Madeira acaba por funcionar como um epicentro não só na questão da memória relacionada com a indústria, mas com a sua contribuição global para a história da indústria em Portugal e não só”.
“Em Portugal não temos um museu da indústria, nenhum centro de memórias especificamente dedicado à questão da indústria. E, por isso, este desafio de ser de alguma maneira plataforma agregadora e de contribuir para o conhecimento da indústria portuguesa é muito inspirador e justo”, considerou a docente, confirmando ainda ao nosso semanário que a edilidade vai criar um Centro da Memória da Indústria único no país, até ao momento.
“O que somos deve-se, sobretudo, aos nossos trabalhadores”
Testemunhos, fotografias, documentos e objetos relacionados com a indústria de S. João da Madeira podem ser consultados em www.memoriaparatodos.pt

O projeto Dias da Memória da Indústria 2020, que é como quem diz o projeto #0 (zero) do Centro de Memória da Indústria, foi apresentado na Casa da Criatividade este último sábado, em jeito de comemoração do Dia do Trabalhador em S. João da Madeira.
Passado mais de um ano, Fernanda Rollo, coordenadora científica do programa Memória para Todos (Universidade Nova de Lisboa), e a sua equipa mostraram os resultados de três dias de recolha de memórias junto daqueles que “forjaram o crescimento” do concelho sanjoanense. Aliás, o presidente da câmara chegou a dizer, na sessão, que “o que somos deve-se, sobretudo, aos nossos trabalhadores”.
Levados a cabo pelo Município, através da sua Unidade de Turismo, e o programa Memória para Todos, Os Dias da Memória da Indústria visaram registar memórias de todos que contribuíram para a história da indústria de S. João da Madeira, através da recolha de testemunhos orais, fotografias, documentos e objetos relacionados com três setores/empresas importantes para a nossa cidade: o calçado, a metalúrgica Oliva e a fábrica de lápis Viarco.
A iniciativa contou com a presença de 86 pessoas, que contribuíram para o registo de 75 entrevistas (em formato áudio e vídeo) e de um conjunto variado de dezenas de fotografias, documentos e objetos, que agora podem ser consultados em https://memoriaparatodos.pt/portfolio/memorias-da-industria-em-sao-joao-da-madeira/.
Recolha de memórias não fica por aqui
Mas a ideia é não ficar por aqui. “Temos permanentemente o portal aberto à recolha de testemunhos”, informou Fernanda Rollo, acrescentando que “a experiência nos diz que normalmente quando se começam a lançar estas dinâmicas” as pessoas acabam por aderir.

“As pessoas quando são sensibilizadas para isso e veem reconhecida a sua importância, claro, que se sentem mais confortáveis. E esta narrativa de valorização do património industrial e desta história industrial é aquilo que também estimula as pessoas”, considerou a professora universitária.
Em declarações aos jornais locais, Fernanda Rollo ainda chamou à atenção para que “esta questão do Centro da Memória e desta recolha das memórias, como é óbvio, não se cinge à história da indústria”. Tudo isto, na sua opinião, “tem um impacto enorme em termos de identidade, comunidade, coesão social e até de contribuição no combate ao envelhecimento, às doenças da memória”.
“A recolha de memórias não só é uma responsabilidade que temos perante os mais velhos, o nosso país e as nossas comunidades, mas também uma forma incrível de irmos ao encontro das pessoas também no plano social, identitário, etc.”, sublinhou a responsável.
Os interessados em também fazer história partilhando a sua podem entrar em contacto com a Unidade de Turismo da autarquia, presencialmente na Torre da Oliva ou por telefone 256 200 204.
