A manhã é osso duro de roer.
A sala de espera é ampla, luminosa, lavada.
Através do vidro leitoso deixa o sol cair os seus braços generosamente sobre as plantas artificiais, verdes, como se fossem vivas.
Tudo é branco e cinzento da cor do gelo, o gelo que vive dentro de cada um, como se habitasse uma paisagem lunar ou uma nave espacial.
O ambiente é humanizado de palavras, gestos e sorrisos.
Voluntários de bata branca oferecem um cafezinho ou chá quente.
A espera é longa e são muitos a aguardar que uma voz sem rosto chame o seu nome.
A paisagem humana é estranha, caras pálidas, olheiras fundas, máscaras na boca, cabeças
nuas, outras cobertas de lenços, chapéus ou bonés a compor o rosto, na tentativa de agarrar a beleza que a doença teima em roubar.
Doença que não escolhe idade.
Ao lado a garrafinha de água que de gole a gole se vai esvaziando.
Adivinha-se, lá fora, um sol brilhante e quente através do telhado de vidro.
E na praia as gaivotas à solta.
As manhãs repetem-se com o mesmo ritual que parece não ter fim.

Eva Cruz

À tarde vou ver as gaivotas, soltas e libertas.
Rente ao pôr-do-sol, sobrevoam a areia e o mar em voltas e reviravoltas.
São pedacinhos de papel preto e branco a cair do céu.
Por instinto, poisam na areia, uma a uma, todas viradas para o mesmo lado.
Não há nenhuma fora de linha.
A um sinal mágico voam em debandada.
Ao longe partem barcos e no ar um avião voa baixinho fazendo-se à terra.
A vida é feita de partidas e chegadas.
Amanhã as gaivotas hão-de voltar.

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