Eunice Muñoz decidiu abandonar os palcos no ano em que completa 80 anos de carreira e 93 anos de vida. Para além da sua despedida, o espetáculo “A Margem do Tempo” marca a transmissão do testemunho à neta, Lídia Muñoz, e às gerações vindouras.A Sérgio Moura Afonso coube a adaptação deste espetáculo, que era originalmente um monólogo, para duas atrizes que interpretam a mesma personagem, mas com uma “margem de tempo” entre si. Não há palavras, mas um sem fim de emoções que são transmitidas através de gestos e sobretudo expressões acompanhadas de uma banda sonora original criada e interpretada pelo maestro Nuno Feist.
“A Margem do Tempo” retrata “uma mulher muito sozinha que decide matar-se”, mas a adaptação do texto “dá um bocadinho de esperança. Se calhar não há um final, ela não morre e chega aos 90 anos”, supõe Lídia Muñoz. Embora viva com a avó, apenas trabalhou com ela em 2010 e agora, trilhando assim o seu próprio caminho. “Tenho muito orgulho em ser neta de quem sou”, salientou Lídia Muñoz, descrevendo como “maravilhoso” o momento em que subiu, sexta-feira passada, ao palco da Casa da Criatividade.
O caminho de Eunice Muñoz já se cruzou com o de S. João da Madeira várias vezes ao longo da sua carreira, tendo, a título de exemplo, sido uma das convidadas do Festival de Poesia à Mesa que é pioneiro no país.
Ao fim de oito décadas de devoção e dedicação à arte e à cultura, uma das mais conceituadas atrizes portuguesas termina a sua carreira com a sensação de dever cumprido ao levar, uma vez mais, o espetáculo a todo o país. Aos públicos, sempre que pisou um palco, “dou-lhes o melhor de mim”, assegurou Eunice Muñoz com a esperança de que “o teatro esteja sempre acordado e recordado”.
A conceituada atriz também deixa a sua marca no cinema e em televisão, mas o teatro sempre foi e será o maior e mais querido palco da sua vida.
A sala da Casa da Criatividade esgotou para ver uma diva cuja despedida dos palcos passou por S. João da Madeira para honra de todos os presentes e os que não puderam estar devido aos constrangimentos provocados pela pandemia.