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É escritora, ativista e candidata do Bloco de Esquerda (BE) à Câmara Municipal de S. João da Madeira (SJM). Sara F. Costa tem 33 anos, é natural da Vila de Cucujães, do concelho de Oliveira de Azeméis, mas fez todo o percurso escolar em SJM. É licenciada em Estudos Orientais pela Universidade do Minho (UM), mestre em Estudos Interculturais Português/Chinês pela UM e Universidade de Línguas Estrangeiras de Tianjin, China, e doutoranda em Relações Internacionais na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa. A experiência de ensino começou na UM e no Instituto Politécnico de Leiria. Foi diretora executiva do Centro de Língua Chinesa Portal Martim Moniz. É cronista no jornal Hoje Macau. Fez parte de várias organizações não governamentais onde desenvolveu projetos de ativismo pelos direitos dos jovens em diversos países europeus, enquadrados no programa fundado pela União Europeia “Juventude em Ação”. Sara F. Costa já venceu por três vezes o Prémio Literário João da Silva Correia de SJM.

 

Não é natural nem vive em S. João da Madeira. Qual a sua ligação à cidade?

Eu vivo em Cucujães, mas vivo exatamente na fronteira com S. João da Madeira (SJM). Portanto, estou muito mais perto de SJM do que de Oliveira de Azeméis. A minha vida sempre se passou em SJM. Os meus pais trabalharam aqui, eu estudei sempre cá, acabei aqui o secundário, portanto, a realidade é que Cucujães era o sítio onde íamos dormir, quase dormitório, e a vida passava-se em SJM.

 

Quando começou o seu percurso político?

Eu já votava Bloco de Esquerda, mas só me tornei militante por volta de 2015.

 

Porquê o Bloco de Esquerda (BE)?

Porque é o partido com o qual me identifico. Dentro do leque partidário que existe, os meus valores, o meu pensamento político, vão muito mais ao encontro do BE do que qualquer outro partido.

Quando é que integrou pela primeira vez as listas do BE?

Nas últimas autárquicas (2017) em que fui a número dois da lista à Câmara de SJM.

 

Passados quatro anos é a número um. O que a levou a aceitar este desafio?

O que me levou a aceitar este desafio foi o ter a consciência de que as minhas ideias podem ter algum impacto em SJM para melhorar certos aspetos da cidade. Acho que é bom integrar um coletivo que ajude a definir, desenvolver e tornar as ideias aplicáveis.

“A nossa máquina partidária não se compara em termos de orçamento às dos grandes partidos”

 

O BE não elegeu candidatos nas duas últimas eleições autárquicas.  Quais os motivos que têm levado os sanjoanenses a não depositar o seu futuro nas “vossas mãos”?

É uma questão sempre um bocadinho complexa porque o que acontece é um pouco a falta de afirmação que, por vezes, temos. Ou seja, não por falta de competências, não por falta de trabalho, não por falta de ter um programa extremamente estruturado e estudado e que faz todo o sentido, mas porque a nossa máquina partidária não se compara em termos de orçamento às dos grandes partidos. E dinheiro gera dinheiro, poder gera poder. Quando se está no poder há muito tempo há uma certa vantagem, uma certa possibilidade da manutenção desse poder e aí torna-se, de facto, mais difícil quando se é um partido que não tem o mesmo orçamento para propaganda partidária.

 

Se tivesse de eleger uma bandeira eleitoral, qual seria?

A habitação. A habitação é uma questão extremamente importante. O direito à habitação e a habitação de qualidade. Queremos um concelho onde possamos habitar sem sermos vítimas de especulação imobiliária. Também queremos que SJM seja um concelho onde os apoios sociais cheguem a mais pessoas, bem como que seja promovida uma maior consciência ambiental e um maior bem-estar animal.

O que está a ser feito ao nível da Estratégia Local de Habitação não é suficiente?

Não, não é suficiente.

 

“Queremos criar uma bolsa de arrendamento não só para abranger mais famílias carenciadas, mas também os jovens”

 

Na vossa ótica, uma das soluções passaria por construir mais habitação social?

Não. Não é preciso construir mais. É preciso reabilitar e recuperar prédios que neste momento não estão ocupados.

Nuno Santos Ferreira

O que defendem que deveria ser feito?

É preciso compreender que devíamos ter habitação para todos os sanjoanenses. O problema é que essa habitação ou é devoluta ou são obras que não continuaram e, portanto, tem de existir uma cooperação entre os proprietários e o Município. Uma intervenção na reabilitação das casas devolutas e uma intervenção ao nível do arrendamento a custos controlados. Não são só as famílias com carência que precisam de habitação, são também os jovens que não se conseguem fixar no concelho. Queremos criar uma bolsa de arrendamento não só para abranger mais famílias carenciadas, mas também para abranger os jovens. A cidade para ter desenvolvimento precisa de ter pessoas. Uma forma de fixar as pessoas é precisamente proporcionar-lhes esta possibilidade de habitação porque sabemos que com os salários atuais, a precariedade laboral, etc., há muita dificuldade, sobretudo para os jovens.

 

“O Município pode escolher basear-se no critério do limiar da pobreza. Chegaria a muitas mais pessoas”

 

O BE quer que o valor do limiar da pobreza (540 euros), e não o IAS (438,81 euros), seja tido em conta para ter acesso aos apoios sociais, chegando, assim, a mais pessoas. Quantas pessoas podem ser abrangidas por esta medida em S. João da Madeira?

A Estratégia Local de Habitação identificou 870 agregados familiares com carência habitacional e sabemos que está a ser aplicado o programa 1º Direito que já tem algum apoio para dar resposta a estas situações, mas não é o suficiente. Porquê? Pelas medidas que já referiu e que já falámos. Eles baseiam-se no critério do Indexante de Apoios Sociais (IAS) e isso é uma escolha do Município. O Município pode escolher basear-se, por exemplo, no critério do limiar da pobreza. Chegaria a muitas mais pessoas.

 

O partido defende que a água não deve ser um negócio. Vai continuar a lutar pela municipalização da água?

Sim. Queremos implementar um tarifário social automático da água que deveria representar um desconto mínimo de 50% na fatura da água. Sabemos que, por exemplo, a tarifa social automática da eletricidade abrange cerca de 1.800 famílias sanjoanenses. Se aplicássemos a mesma tarifa à água, saberíamos que ia, pelo menos, abranger estas 1.800 famílias que já têm esse apoio para a eletricidade.

 

É uma medida viável?

Sim. A medida já é possível, existe legislação que o permite e basta que a Câmara e a Assembleia municipais tenham vontade política para aprová-la e adotá-la.

 

Tarifa Social da Água: “ia abranger 1.800 famílias que já têm esse apoio para a eletricidade”

 

Qual a sua opinião sobre a ação do executivo e dos partidos da oposição em relação a esta matéria ao longo do mandato?

Achamos que não estão atentos ao problema da água e não estão a ter em conta as pessoas mais carenciadas, para quem isto faz a diferença. Talvez não lhes faça diferença a eles.

 

Com que medidas é que o Bloco pretende promover a “consciência ambiental”?

Passa pela questão da mobilidade suave. A ideia é reduzir o uso do transporte individual na cidade em detrimento do transporte coletivo. Queremos que o uso de autocarros, comboios, ciclovias e bicicletas partilhadas passe a ser parte do dia a dia dos sanjoanenses. Defendemos a criação de ciclovias, que sejam realmente ciclovias que permitam que as pessoas as utilizem porque temos algumas que não têm continuidade. Depois temos a questão também da criação de espaços verdes que sejam efetivamente espaços verdes. Ou seja, já temos alguns, mas há sítios um bocado esquecidos como aquele espaço entre o Orreiro e Casaldelo, onde gostaríamos de ver valorizado e ampliado o programa das hortas urbanas.

 

“Temos de aplicar o programa de esterilização para controlar a população animal”

 

E tornar SJM um concelho mais amigo dos animais?

Em relação ao bem-estar animal temos vários problemas. O atual albergue de animais até tem umas construções novas, mas não são suficientes para albergar os animais todos. A questão da esterilização é importante pela questão do controlo da população animal. Queremos um concelho com políticas de apoio à esterilização que deveriam já estar em funcionamento, mas infelizmente não estão e medidas de apoio para os agregados que adotam e cuidam dos animais. Para ajudar o animal em si, temos, por exemplo, uma medida que pretende que os animais acidentados, encontrados na via pública, sejam encaminhados para uma clínica veterinária com a qual a câmara tem uma parceria e cobre os custos do recobro do animal.

 

O partido acusou a câmara de adotar “medidas cosméticas” de apoio à causa animal.  Quais os factos que vos levam a dizer que essas medidas municipais, tal como a maquilhagem só têm um efeito temporário?

Por exemplo temos a questão da Provedora dos Animais que achamos que deve ser um cargo remunerado porque é anunciado um bocadinho para ser anunciado e depois efetivamente não serve bem o propósito a que se diz servir por não ser remunerado. Também temos o exemplo do albergue para gatos que foi criado na Avenida do Brasil e que não está propriamente bem pensado. Os gatos são animais territoriais e o que era necessário era realmente um gatil e não este tipo de ideia. Para mais porque a ideia parece um pouco cosmética na medida em que tenta anunciar que se está a fazer algo pelos animais, mas o que acontece é que os gatos nem sequer conseguem permanecer naquele albergue. Não estão lá e não se está a testar isso realmente. O programa de esterilização, que saibamos por parte de cuidadoras de animais, não está a ser aplicado sequer. No albergue têm 100 quando a capacidade é para 35 animais. Está sobrelotado. Por isso temos de aplicar o programa de esterilização para controlar a população animal.

 

“Atribuição de bolsas para desenvolvimento de projetos artísticos daria projeção a SJM”

 

De que forma é que vai dinamizar a cultura?

Queremos que a cultura seja desenvolvida porque achamos que é fundamental e queremos olhar um bocadinho para as verbas que existem a nível de concretização de eventos. Há eventos que são bons e que devem manter-se, mas se calhar com alguns ajustes.  Também gostaríamos de intervir nas ações da Biblioteca Municipal com a criação de workshops de escrita criativa em interação com as escolas. Lamentamos o desinvestimento no Centro de Leitura Especial que teve muito interesse quando o funcionário lá esteve a estagiar na biblioteca e veio para as notícias mesmo a nível nacional porque é um projeto diferenciador, muito inclusivo e muito interessante que não é só para invisuais. Ele neste momento está a fazer um espólio de livros em formato áudio que qualquer pessoa pode ouvir. É uma tendência no setor literário internacional também. A nível mais das artes queremos promover a integração dos nossos artistas com ligação à região. Até com os Agrupamentos de Escolas porque temos a Serafim Leite com artes e dali saem muita energia criativa, muitos artistas e que podiam também ter ali uma cooperação maior entre a Oliva Creative Factory e o Centro de Arte Oliva. Outras ideias que achamos que seriam muito interessantes são a atribuição de bolsas para desenvolvimento de projetos artísticos, bem como apoiar a sua exposição e difusão. Certamente daria projeção a SJM porque estas oportunidades são poucas no nosso país.

 

Qual a posição do BE em relação à classificação e aos serviços atuais existentes no hospital?

Em relação ao hospital achamos que é necessário que haja uma maior facilidade de acesso a serviços como o tratamento da saúde mental. Temos de facto bons profissionais, mas o acesso é um pouco difícil. Ainda não visitámos o hospital, mas visitamos o Centro de Saúde e vimos algumas deficiências que são necessárias colmatar. Ao nível da saúde temos mais propostas, mas é mais para o ACeS (Agrupamento de Centros de Saúde Entre Douro e Vouga II-Aveiro Norte) e não tanto para o hospital em particular. No entanto, não nos contentamos com o que existe no hospital porque defendemos que deve recuperar a importância que outrora teve.

 

Comércio tradicional: “Garantir uma bolsa de arrendamento a custos controlados para pessoas em início de projeto”

 

O que acha da obra da “nova” Praça?

O propósito essencial é atrair pessoas e por mais obras que existam isso não pode ser a solução para tudo porque não tem funcionado. Podemos tornar o espaço mais bonito, mais atraente, etc., mas temos de perceber também o que é que é preciso para as pessoas virem aqui e para promover o comércio local que também é um dos objetivos. É importante que existam espaço verdes e é importante facilitar a implementação de novo comércio diferenciado.

 

Nuno Santos Ferreira

Qual a estratégia do partido para a revitalização do comércio tradicional e fazer com que as pessoas venham à Praça?

Garantir uma bolsa de arrendamento a custos controlados para pessoas em início de projeto. Depois temos a questão da divulgação que é a mesma que colocamos em relação ao Mercado. Aqui o que falta é um bocado de marketing para o Mercado e para todo o comércio local.  Temos a ideia de elaborar um portal online com aplicação para smartphone com o catálogo de ofertas da cidade e respetivas campanhas de marketing. Isto tudo só aplicável ao comércio local. Temos que um pouco contra-atacar com mais promoção e digitalização.

 

“A vontade popular deve ditar o rumo da freguesia”

 

O constrangimento espacial do concelho só pode ser resolvido com seu alargamento a outras freguesias. Qual a sua posição sobre a integração de Milheirós de Poiares?

Relativamente a Milheirós de Poiares o BE sempre teve uma posição muito fixa. Por um lado, conseguimos observar que vários partidos votam uma coisa em S. João e outra diferente em Santa Maria da Feira. Não é o nosso caso. Votamos sempre a favor de que a consulta popular fosse eventualmente assumida. Respeitamos a vontade da população nesse aspeto. Já houve essa consulta popular que depois foi rejeitada na Assembleia de Santa Maria da Feira. A vontade popular deve ditar o rumo da freguesia e os vários partidos deveriam aceitar e respeitar um possível resultado que venha de uma nova consulta popular.

 

Acha que a junta de freguesia tem capacidade para ter mais competências?

Sim. Achamos que as juntas são o poder político mais próximo e que faz sentido haver transferência de competências, mas essas competências devem sempre ser acompanhadas da transferência de verbas da câmara para a junta.

 

Que competência(s) é que o partido reivindicaria?

Por exemplo, balcões de informação e de ajuda ao preenchimento de requerimentos, ao acesso a apoios, direitos, benefícios, etc. Muitas pessoas não sabem sequer que apoios podem ter, muito menos como os requerer. A câmara é uma máquina grande que muitas vezes não consegue dar estas respostas específicas. A junta poderia, até tendo serviços mais próximos da população com balcões em diversos locais da cidade.

 

“O TUS tem que funcionar melhor. Para isso tem de ter mais horários e mais linhas para servir realmente a população”

 

A construção de novas piscinas está entre as prioridades do Bloco?

Não.

O TUS passou a ser gratuito para todas as pessoas que circulem dentro da cidade. Esta medida é suficiente para as pessoas substituírem-no pelo transporte individual?

Não. O TUS tem que funcionar melhor. Para isso tem de ter mais horários e mais linhas para servir realmente a população entre sítios essenciais como o local de trabalho e o local de alojamento.

 

Ação do atual executivo é “insuficiente”

 

Acredita na reabilitação e modernização da Linha do Vouga, no valor de 100 milhões de euros, prevista no PNI 2030?

Acredito. Tem que ser concretizado obviamente. Não se entende o porquê da não concretização se existe esse plano de investimento. É urgente e é fundamental a sua reabilitação.

Qual o balanço da ação do atual executivo?

É insuficiente. É insuficiente a dar determinadas respostas. É necessária uma solução urgente para os problemas da habitação, da mobilidade suave e do bem-estar animal. Não foi suficiente este mandato.

 

Embora condicionados pela pandemia, dos contactos que têm estabelecido com as pessoas, que reações têm recebido?

As reações têm sido muito boas. O que acontece é que as pessoas nos dizem que parecemos o único partido que está a trabalhar. Pelo que lemos na comunicação social conseguimos ver que os outros partidos ainda parecem estar vazios de ideias. O que as pessoas nos dizem é que parecemos o único partido preocupado com as pessoas. Acho que tem fundamento porque temos feito e ainda estamos a fazer um trabalho muito exaustivo. Um trabalho que quer apresentar propostas bem justificadas e exequíveis.

 

Qual seria um bom resultado para o partido nestas eleições autárquicas?

Sermos eleitos para a câmara e, se possível, nos restantes órgãos. Como se costuma dizer: Temos de esperar o melhor e preparar-nos para o pior. Neste caso, temos de esperar o melhor.

 

“O que nos dizem é que parecemos o único partido preocupado com as pessoas”

 

Se for eleita, cumpre o mandato até ao fim?

Claro.

 

Se não for eleita, qual o plano de futuro?

Neste momento, planos para o futuro é muito complicado por causa da pandemia. Eu, pessoalmente, estou numa situação de alguma instabilidade. Continuo a fazer a minha escrita e obtive uma bolsa de criação literária de um ano. Ao nível da minha atividade política fiz como sempre fiz contribuindo para tudo o que acontece no BE tanto a nível local como nacional.

 

Mandato 2017/2021

Ponto positivo

A ampliação do Albergue para Animais Errantes, sendo preciso aumentar ainda mais a sua capacidade.

 

Ponto negativo

O Parque das Corgas não é efetivamente um parque, mas um investimento imobiliário privado.

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