Um País Digital?
As férias por vezes começam sem internet. Sem sinal de nada. E hoje, quando a internet cai, quase que nem se pode assar um peixe na brasa ou ir à casa de banho. Mas não foi bem a internet que caiu. Foi um poste de madeira meio podre que foi e continua a ser a tecnologia que a antiga PT – hoje Altice – utiliza para fazer o transporte aéreo de uns cabos por onde passa o tal sinal. Normalmente, com o tempo, esses cabos cam entrelaçados nas árvores que vão pululando pelas bordas das estradas e, mais incêndio menos incêndio, mais temporal menos temporal, lá vão os postes, os cabos e, claro, o tal sinal. Foi o que aconteceu no início das férias. Por força da podridão um poste caiu e dezenas de cidadãos do país digital regressaram ao século passado. E se este obscurantismo forçado tem coisas positivas – deixamos de ver televisão, os analistas e lemos mais um livro – a verdade é que a coisa tinha de se resolver porque há quem precise do sinal para trabalhar. Apesar das inúmeras reclamações para os operadores, para a Altice e para as autoridades, foi a intervenção de um autarca que forçou a Altice a resolver o problema. E tão bem o resolveu quinze dias depois que acabou por colocar dois (não um…) postes, tendo um deles constituído um upgrade tecnológico porque é de cimento e, em princípio, não deve arder. Eu sei que estes problemas são comuns pelo país inteiro. Fiquei foi com a dúvida de como é que será o tal País Digital que o poder político pretende e que a bazuca vem incrementar. Talvez a primeira medida seja a de substituir os postes todos pelo país fora ou criar alternativas de transmissão do tal sinal digital. É que, com Altices destas não vamos lá…
Balha-me Deus!
A TAP é como a…
Há uma história que se conta muitas vezes de um escuteiro que, para fazer a sua boa ação diária, ajuda uma senhora idosa a passar para o outro lado da rua mesmo contra a vontade dela. No caso o que importa é a intenção e a boa ação ali ficou. Para voltar ao sítio onde estava certa- mente que aparecerá outro escuteiro. E isto a propósito de um slogan que a TAP vem usando na comunicação com clientes habituais e que diz mais ou menos isto: “Aproxime-se de quem mais ama. Viaje com a TAP”. Pois foi com base nesse simpático convite que um cidadão resolveu sair do Porto às 11 para chegar a Lisboa às 12 num daqueles aviões a hélice, da primeira guerra mundial, que o brasileiro Nielman tirou da sucata para fazer uma célebre “ponte aérea” entre Porto e Lisboa e que foi um desastre completo porque na hora de sair do Porto o avião ainda estava em Lisboa e vice-versa. Adiante. O tal cidadão foi para Lisboa para seguir, em novo voo da TAP, para o seu destino. Como o tempo de passagem de um voo para outro era de pouco menos de uma hora era prudente e expectável que a TAP (que lhe vendeu o bilhete com essa condicionante…), para ele e para outros em situações idênticas – e como fazem as companhias pelo mundo fora – facilitasse o acesso ao voo seguinte. Zero. A correr, o cidadão chegou à porta do novo voo 15 minutos antes da hora do dito, mas não lhe foi permitido o acesso. Eram 12,35 e o voo saía às 12,50. Portanto, porta fechada. Mas que descansasse o cidadão em causa porque, garantiram-lhe, já tinha lugar marcado no voo seguinte, às 21,00 horas… E tempo para descansar, de facto, não lhe faltaria – reconheceu. Como não faltou. Resultado: para uma viagem de 3 horas o cidadão esperou no aeroporto umas 9 horas. Resultado adicional: Mais um pedido de indemnização que certamente a TAP terá de pagar como já o fez anteriormente em situação similar. E uma decisão elementar: Viajar na TAP? Ajudar a TAP? Para quê? A TAP é mais ou menos como a senhora idosa desta história, o Estado está a ajudar, há cidadãos que tentam ajudar continuando a viajar na companhia, mas parece mesmo que a TAP não quer…
Balha-me Deus!
Animalismo Desumano
O meu gato não terminou ainda as férias. É por isso que não me tem dado muitas pistas sobre os seus pensamentos quanto ao futuro do País, da pandemia, da cidade e, agora, do Afeganistão. O único pensamento felino que me transmitiu nestes dias é que ficou muito contente com o resgate de 200 cães e gatos de Cabul para Londres que foi feito pelo animalista Pen Farthing. Apesar de eu lhe ter tentado explicar que isso foi como que roubar tempo e meios ao salvamento de seres humanos, que era o animalismo ocidental no grau zero da sua desumanidade – colocar cães e gatos à frente de crianças numa operação de salvamento – fiquei com a sensação de que não percebeu. Continuou a festejar. Eu até compreendo o ponto de vista do meu gato. Mas, face ao pouco que vimos nas televisões…
Balha-me Deus!