“O Desporto Escolar tem constituído um viveiro de experiências, valores e aprendizagens para muitos milhares de jovens, em sucessivas gerações. É, pois, inegável o seu contributo para uma sociedade em que, cada vez mais, a Educação e o Desporto se afirmam, na sua relação íntima, enquanto promotores de saúde, bem-estar e coesão social. A igualdade, a inclusão, o respeito pela diversidade, a integridade, a disciplina, a excelência, a amizade ou a tolerância, são alguns dos valores que o Desporto Escolar promove e que contribuem para uma sociedade mais forte, mais resiliente e mais tolerante”. A afirmação é do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e consta no Programa Estratégico do Desporto Escolar para o próximo quadriénio (2021-2025) que, a partir de agora, vai apostar numa cooperação estreita com instituições externas, como federações e clubes desportivos, entre outras. Para Filipe Rosário, coordenador do Desporto Escolar do Agrupamento de Escolas Dr. Serafim Leite (AESL), as “parcerias com a comunidade são de há muito tempo uma constatação da realidade” e acabam por ser uma resposta das necessidades cada vez maiores das modalidades lecionadas em contexto escolar. “Será fácil perceber que 99,9% das escolas do país não têm piscinas. No entanto há uma forte ligação entre o desporto escolar e a modalidade. Isto apenas é possível com a colaboração dos municípios e clubes federados, onde as escolas beneficiam com a utilização das piscinas municipais. O mesmo acontece com outras modalidades desportivas, como ténis, basquetebol e futsal”, esclarece Filipe Rosário.
Presente nas escolas há várias décadas, foi nos anos 90 que a estrutura do Desporto Escolar se consolidou. Hoje é uma atividade de complemento curricular, mas de grande importância no desenvolvimento cívico e de promoção da saúde e bem-estar físico ao mesmo tempo que permite uma melhoria significativa, em termos qualitativos e quantitativos, da prática desportiva. Para Filipe Rosário trata-se de “um conjunto de práticas lúdico-desportivas e de formação com cariz desportivo” em que o papel primordial “está na promoção da saúde e condição física”, bem como na “aquisição de hábitos e condutas motoras”. Para além disso, o coordenador destaca também que permite a introdução à prática desportiva e à competição enquanto “estratégias de promoção do sucesso educativo e de estilo de vida saudável, com respeito pelos princípios de igualdade de oportunidades e da diversidade”.
Apesar de passar a contar com uma maior articulação com as federações desportivas e associações, aproximando o Desporto Escolar aos quadros competitivos federados, Filipe Rosário sublinha que os propósitos e objetivos desta atividade curricular “não são os mesmo dos clubes”, muito embora reconheça que essa “poderá ser a perceção generalizada da pessoas”. “Isso é uma visão muito redutora daquilo que é o trabalho realizado no Desporto Escolar, particularmente no Agrupamento de Escolas Dr. Serafim Leite. O trabalho desenvolvido é realizado por professores de educação física e/ou professores de outras áreas curriculares com formação específica nas modalidades desportivas, emprestando toda a sua experiência e saber ao treino, caso que muitas vezes não acontece no desporto federado, particularmente nas camadas jovens”, explica Filipe Rosário, acrescentando que o Desporto Escolar “é parte integrante do desenvolvimento dos atletas em idades compreendidas entre os 10 e os 18 anos”. “Nesse período adquirem ferramentas que, desenvolvidas com maior cuidado, tempo e dedicação no treino desportivo federado, são o suporte essencial para o desporto federado e de alta competição”, concluiu o coordenador assegurando que a qualidade do desporto escolar está o nível do federado.
Captação de atletas é uma das dificuldades do Desporto Escolar
Ligado ao atletismo há 20 anos, António Ferreira é o principal responsável pela modalidade na Escola Dr. Serafim Leite no âmbito do Desporto Escolar. Os últimos dois anos foram os mais complicados, fruto da pandemia, com muitos alunos a abandonarem a modalidade como consequência das restrições impostas pelo Ministério da Educação, que impediu a presença em competições escolares e federadas, levando à “desmotivação” dos jovens.
As dificuldades não são, no entanto, de agora. A captação de atletas, em particular no atletismo, para a prática do desporto em contexto escolar não é fácil e parece que se tem vindo a agravar ao longo dos anos. “Os alunos não querem praticar desporto. É deveras impressionante esta situação”, sublinha António Ferreira, revelando que no início de cada ano escolar assiste às aulas de Educação Física com o objetivo de detetar talentos. “Os alunos dizem sempre: ‘Correr stor? Nem pensar!’”. Há, ainda assim, aqueles que acabam por se dedicar ao Desporto Escolar que se revela a base para uma carreira de sucesso e António Ferreira conta com alguns exemplos, como é o caso, por exemplo, de Delfim Vieira, que é coordenador de atletismo nos Açores, Diana Relvas, treinadora no Sporting CP, Daniela Ferreira, treinadora em Leiria e formadora na área, ou João Fontela, que chegou a representar o Sporting e hoje veste a camisola do SG Pontevedra, em Espanha.