A minha coluna

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NOBREZA

Apesar de continuarem a surgir diariamente e em catadupa, as situações que nos levam a expressar um sorridente e tantas vezes irónico “Balha-me Deus” acompanhado de um ligeiro menear da cabeça, há momentos em que um só caso, uma só notícia, uma só atitude, relega todos os tais que referi para o plano secundário do interesse público. São atos que até acontecerão imensas vezes, mas que, talvez pela sua nobreza, nem sempre têm lugar nos noticiários nem nas parangonas das redes sociais, passando despercebidos quando, se o não fossem, levar-nos-iam a procurar uma expressão diferente da que regularmente uso neste espaço. Há dias, uma cidadã a quem o destino tinha levado para sempre a presença física do companheiro de uma vida, saiu de casa, fechou a porta e só depois se apercebeu que a chave estava do lado de dentro. Os vizinhos ajudam, chamam os bombeiros e a PSP – que tem de acompanhar sempre estas entradas “forçadas” nas habitações – e a porta foi reaberta. Tudo bem, tudo regressa à normalidade possível e, como não pode deixar de ser, cada um segue com a sua vida. No dia seguinte a cidadã recebe uma visita. De um agente da PSP que, tendo acompanhado presencialmente a já descrita situação do dia anterior decidiu visitar a cidadã para saber se estava bem ou se precisava de alguma coisa tendo em conta a nova vivência com que se defrontava. E disponibilizou os serviços da corporação a que pertence para a ajudar no que fosse necessário. Um gesto simples, mas de um valor inestimável para quem o recebe. Um gesto de uma nobreza que importa destacar e dar pública nota. Um gesto que evidencia os novos tempos de uma polícia que, de facto, existe para nossa segurança. Em conversa com um amigo a quem contava este episódio – e fazia-o com contentamento – ouvi descrição de outras situações similares em que a intervenção de agentes da PSP se evidencia pela pedagogia e apoio em vez da imagem muitas vezes propalada da autoridade pura e dura ou até do excesso no seu uso. É público o caso de um agente a quem as crianças e jovens tratam carinhosamente pelo nome de um “boneco”. Mas, felizmente, há mais. E é essa a nota que queria aqui deixar muito embora não possa utilizar, neste caso, e ainda bem, o habitual

Balha-me Deus!

FOI MAIS FÁCIL LEVÁ-LA AO GARCIA

O serviço postal português, vulgarmente conhecido pelos “correios” ou a sigla CTT, foi privatizado no frenesim de vendas ao desbarato de certo governo, há muito morto. O objetivo concreto, embora propositadamente omitido, nunca foi o de fazer com que os cidadãos dispusessem de um melhor serviço, mas apenas o de se amealharem mais uns trocos para o erário público. O resultado está à vista. Nos anos subsequentes as notícias sobre a empresa andaram sempre à volta de retirada de fundos para os acionistas de permeio com um cada vez maior volume de queixas sobre o cada vez pior serviço prestado aos cidadãos. É claro que não nos podemos queixar de ser um mau serviço antidemocrático.
Não. É democrático e muito, porque atrasa tudo de todos, sempre e sem olhar a quem envia ou a quem tem de receber a correspondência. Nesse aspeto (des)honra lhes seja feita… Mais. É tão democrático que está sempre a criar empregos novos. Como? Pela experiência vivenciada sei que os carteiros (eles ou elas porque não me parece bem chamar às mulheres “carteiras” …) estão sempre a mudar e nem tempo têm para percecionar a leitura correta de alguns endereços usados da mesma forma há mais de 20 anos. Dia sim, dia não cá recebemos queixas de assinantes do jornal reclamando a sua não receção. Vai-se a ver e o jornal ou não é devolvido ao remetente – deverá ter sido entregue “ao calhas” em alguma morada distinta – ou, tendo-o sido, vem com a informação
de “destinatário desconhecido” ou “morada incorreta”. E nas mais das vezes não só o destinatário é bem conhecido – ou devia sê-lo (não selo dos CTT) – e a morada está corretíssima há mais de 20 anos. Há dias um amigo informou-me que tinha recebido no mesmo dia jornais de 4 semanas. Não foi preciso explicar-lhe que tinham sido enviados em semanas diferentes – o meu amigo é esperto e até aí tinha chegado… – mas tentei desculpar a empresa e o profissional da distribuição dizendo que talvez até fosse melhor para ele porque assim lia tudo seguido. Todos de uma vez… Eu dei o meu melhor a tentar desculpar os atrasos dos CTT de quem tenho aliás, algumas e lindas coleções de selos (não sê-los…). Eu bem tentei. Só que o meu amigo teimou em não aceitar a justificação.
Afinal, além de inteligente, o meu amigo reside a 500 metros da estação dos CTT. Estação sim. Porque é nas estações que as coisas param. Em 1898, na altura da guerra da independência de Cuba, um soldado americano conseguiu ir até Cuba levar uma carta do Presidente americano ao general Garcia.
Ninguém sabia o endereço, mas em 15 dias a carta foi-lhe entregue. Imaginem o que seria em 2021 se essa carta fosse entregue aos CTT…

Balha-me Deus!

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