“Contos da Sétima Esfera”, de Mário de Carvalho
No final do Batuque, o jovem cuanhama, muito bebido de cerveja de palma, vergou o arco e disparou uma flecha para as alturas. Era o comportamento reprovável, pois os anciãos sempre desaconselharam agredir os céus, desculpável, no entanto, pela alacridade ambiente e eflúvios do licor fermentado. Então foi pela primeira vez perfurado o ponto, até aí intocado de voo de pássaro ou mão de homem, em que nascem as transmutações.
E, de súbito, todos os homens, de todas as partidas do mundo, ficaram sem as suas sombras. Não que as sombras desaparecessem, mas tomaram posse de si, movendo-se em liberdade, como se cada sombra fosse a sombra de um outro ausente. Vencido o pânico inicial, os homens acostumaram-se, embora com um toque de estranheza, aos caprichos e autonomia das sombras.
https://www.wook.pt/livro/contos-da-setima-esfera-mario-de-carvalho/23235860?a_aid=5fd7b0d10f7fa
Obrigado pelo seu interesse no trabalho dos nossos profissionais. Poderá ter acesso à versão integral deste artigo na edição impressa ou no formato digital. Assine o labor aqui.