Os Paços da Cultura foram novamente o palco de mais uma demonstração do grande talento musical que corre pelas ruas desta cidade. Durante cerca de uma hora, Afonso Teixeira, jovem pianista de 18 anos, interpretou com grande mestria um repertório vasto, que atravessou duzentos anos de literatura pianística: de J. S. Bach a D. Shostakovich, passando por L. v. Beethoven, F. Mendelssohn, S. Rachmaninov, F. Chopin e P. Tchaikovsky. Tendo recentemente terminado o Curso Secundário de Música na Academia de São João da Madeira, sob a regência da sua professora de sempre, Maria dos Anjos Almeida, Afonso Teixeira iniciou os seus estudos em piano no seguimento da paixão que foi desenvolvendo a cada vez que ouvia a sua avó, consagrada pianista Nelly Santos Leite. Ao longo deste percurso desenvolveu todas as técnicas que lhe permitiram ‘falar’ com a plateia. É que o piano foi por muitos considerado como o ‘Rei dos Instrumentos’, pela possibilidade que dá, a quem o domina, de explorar diferentes modos de comunicação, dentro deste processo linguístico universal que é a Música: da sonoridade da articulação quase cravistica que se fez ouvir na execução do polifónico Prelúdio e Fuga em Si bemol menor de J. S. Bach, à cor sinfónica exigida nos acordes cheios e ressonantes do Prelúdio nº2 em Dó sustenido menor de S. Rachmaninov. Afonso impressionou quem o ouviu pela forma como destaca a melodia de movimentos complexos de acompanhamento arpejado, como cria os diferentes níveis de textura sonora que dão o relevo necessário ao discurso – como no caso da sonata “Ao luar”, quase uma fantasia, de Beethoven, onde da aparente tranquilidade do primeiro andamento caminhou seguro e confiante para o extasiante Presto agitato, em que toda a energia se liberta, se consome, flui, passa e é novamente captada.
Impressionou a velocidade a que, sem receios, se ‘atirou’ ao prelúdio de Chopin, assim como ao estudo de Mendelssohn, mas destacou-se ainda mais a capacidade de, no meio de todos os fogos de artifício que caracterizam a literatura pianística do séc. XIX, ter sussurrado cada frase, falando ao ouvido de cada auditor, recortando cada ‘mensagem’ que internamente foi passada.
Afonso Teixeira é um jovem de poucas palavras, quando se expressa oralmente. Guarda toda a comunicação para o que consegue transmitir através do piano. Se não o fizeram, procurem ouvi-lo, pois ele tem muito para dizer – o futuro vai certamente assim o permitir.