Hoje S. João da Madeira, o desporto e em particular o hóquei em patins ficaram mais pobres com a partida de Eduardo Duarte. Filho de um dos fundadores da secção de hóquei em patins da Associação Desportiva Sanjoanense, Eduardo Duarte afirmou-se numa modalidade pela qual se apaixonou ainda criança e onde teve como referência o seu pai, o primeiro guarda-redes da equipa alvinegra de hóquei em patins.

Acompanhou sempre a modalidade e a sua Sanjoanense, paixão que dividia com outras duas, a fotografia e o modelismo estático.

O labor endereça as profundas condolências à família e, como forma de homenagem, recupera, na integra, a entrevista que lhe fez e que publicou a 3 de novembro de 2022 no âmbito da rúbrica “Ó Gente da Minha Terra”.

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Pai foi o primeiro guarda-redes da modalidade da Sanjoanense

Do hóquei em patins à fotografia e ao modelismo, as paixões de Eduardo José Duarte

Nascido e criado em S. João da Madeira, Eduardo José Duarte é um filho da terra, com uma vida dedicada ao hóquei em patins. Foi nessa modalidade que encontrou a sua paixão pelo desporto e onde construiu um trajeto de sucesso, ajudando várias equipas a chegar à 1ª Divisão. O atletismo também fez parte do seu percurso desportivo, chegando mesmo a deter, durante alguns anos, o recorde regional no lançamento do peso e do disco, mas foi o hóquei em patins que o entusiasmou. E isso pode agradecer ao seu pai, Eduardo Duarte, um dos fundadores da secção e o primeiro guarda-redes da equipa de hóquei em patins da Sanjoanense.

Crescer com uma das figuras da modalidade em S. João da Madeira fez com que começasse cedo a viver neste meio e a dar os primeiros passos num desporto que hoje é uma referência e vivido com paixão na cidade. “Estamos a falar do pós-guerra, a secção era pobre e não tinha dinheiro para equipas de crianças”, recorda Eduardo José Duarte, que face à falta de condições lembra-se de jogar com os amigos “com os caules de couve a servir de stick”. “A determinada altura juntamo-nos e formamos a UADS – Unidos Associação Desportiva Sanjoanense, equipa que nada tinha a ver com o clube”, continuou, sublinhando que foi desse grupo de amigos “que saíram alguns jogadores seniores”.

Os anos passaram e Eduardo José Duarte foi crescendo na modalidade, que, entretanto, foi alargando a oferta a outros escalões, acabando por “rapidamente chegar à equipa principal”. Mas o início da Guerra Colonial Portuguesa, mais conhecida como Guerra do Ultramar, obrigou-o a uma paragem prolongada, à semelhança do que aconteceu com muitos outros atletas.

Quando regressou o período de adaptação não foi fácil. “Vim muito mais pesado do que quando jogava e tive algumas dificuldades para ultrapassar isso, mas consegui e voltei a jogar”, contou. Mas com o passar do tempo a coluna foi acusando o peso e Eduardo José Duarte tomou a dura decisão de “abandonar por completo” a modalidade.

Encerrava-se um ciclo como jogador, mas alguns anos mais tarde iniciava outro como treinador, onde constam quatro subidas à 1ª Divisão Nacional, uma presença na final da Taça de Portugal e um título nacional da 2ª Divisão.

Os primeiros passos à frente do comando técnico de uma equipa foram dados no Cucujães, convite que surgiu com o objetivo de revitalizar a modalidade no clube vizinho, que acabaria por subir ao escalão principal do hóquei em patins nacional sob a liderança de Eduardo José Duarte na época de 1986/1987.

Foi uma questão de tempo até regressar ao clube da terra, numa altura em que a Sanjoanense se deparava com “dificuldades financeiras e sem jogadores”. “Foi uma luta muito grande para ficarmos na 1ª Divisão, mas conseguimos”, relembrou, salientando que depois disso, sob a sua responsabilidade, houve a opção de “fazer o rejuvenescimento da equipa”.

Eduardo José Duarte acabaria por rumar a Coimbra, onde se manteve durante duas temporadas, comandando, na época de 1992/1993, a Académica à final da Taça de Portugal, onde acabaria vencida pelo Óquei Clube de Barcelos.

As deslocações constantes para Coimbra viriam a revelar-se desgastantes e quando surgiu o convite para orientar a Associação Académica de Espinho com o objetivo de, em dois anos, colocar a equipa na 1ª Divisão Nacional o treinador não hesitou. A meta doi alcançada logo na primeira época, mas a “falta de verbas” acabaria por ditar a descida dos espinhenses “na temporada seguinte”.

Pelo meio Eduardo José Duarte procurou conciliar a atividade desportiva com a sua vida profissional, mas a opção de “abrir uma nova firma” levou-o a tomar a decisão de suspender a carreira de treinador para se focar na empresa. A paragem não foi longa. A ida de António Livramento para o FC Porto, convidando o professor João Araújo para o acompanhar, quando “se tinha comprometido a treinar a Académica de Espinho”, encurtou a pausa de Eduardo José Duarte. “Quando foi falar com eles disseram-lhe que se eu fosse para lá que o deixavam ir. Não lhe quis ‘cortar as pernas’ e regressei a Espinho”, referiu, lembrando que foi uma época (1998/1999) que “correu muito bem” e que terminou com uma nova subida da formação espinhense ao principal campeonato da modalidade.

Pouco depois surgiria um novo convite para voltar à Sanjoanense, comandando também a equipa alvinegra à 1ª Divisão Nacional, fruto do título conquistado no escalão secundário (2000/2001).

Foi, no entanto, no Cucujães que Eduardo José Duarte encerrou um percurso de mais de 20 anos, cumprindo uma promessa feita aos dirigentes do clube que foi a sua primeira casa como treinador. “Para se subir de divisão ou lutar por alguma coisa é preciso muito empenho e rigidez. Não pode haver grandes contemplações e eu já estava a ficar um bocadinho mole”, confessou, relembrando que quando começou a sentir que “estava a ser mais avô do que treinador” decidiu encerrar mais um capítulo. Pelo meio Eduardo José Duarte contou ainda com passagem pela seleção de Aveiro e foi coordenador desportivo de hóquei em patins da Sanjoanense.

Atualmente dedica os seus tempos livres a duas paixões, o modelismo estático e à fotografia. Esta última deu origem ao livro “Biodiversidade do Parque do Rui Ul”, lançado em março deste ano pela Câmara Municipal de S. João da Madeira, com imagens de cerca de 400 espécies captadas por este sanjoanense, uma fração das que fazem parte do seu espólio. “Encontrei um estudo que a autarquia tinha feito a espécies que andavam aqui na cidade e verifiquei que faltavam algumas”, referiu. O tema cativou-o e partir daí começou todo um trabalho de documentação, através da fotografia, das várias espécies e a sua classificação, que posteriormente foi enviado para a CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, que deu aval ao estudo de Eduardo José Duarte. “Não é um livro de fotografias, mas um livro científico”, esclareceu.

Hoje, “completamente afastado” da modalidade, confessa que é um “homem realizado” e garante que a sua “vida valeu a pena”. “Tentei fazer sempre aquilo que aconselho os outros, que é ser feliz”, frisou Eduardo José Duarte, que admitiu que depois de tantos anos “ainda é difícil deixar de lado o papel de treinador” quando assiste a um jogo.

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