O concerto de novembro do ciclo AcáMúsica, realizado no passado dia 12, trouxe ao palco do Auditório Marília Rocha o baterista e compositor brasileiro Gabriel Faro. Um momento em que todos os focos se concentraram no virtuosismo técnico e no elevado recorte estilístico e estético que o músico demonstrou ao longo de cerca de 75 minutos.
Apenas acompanhado por um suporte eletrónico, Gabriel Faro foi ‘desfilando’ o seu trabalho enquanto compositor e intérprete, referenciando algumas das suas principais influências criativas, e mostrando porque pode ser certamente apontado como uma futura referência mundial na área, tal a sua versatilidade, musicalidade, agilidade, sentido temporal, métrico, ‘groove’, a forma de passar como simples uma linguagem ritmicamente complexa, de grande exigência física. O público, que encheu o auditório e que o salvou em pé no final do concerto, foi envolvido nas sonoridades jazzísticas dos originais Mater e Fillius, compostos em 2020 durante a o confinamento pandémico, onde se sentem também a presença das influências da música brasileira, quer no recurso à flauta transversal como da voz vocalizada no instrumental que o acompanhamento incluía.
Os comentários ao concerto, realizados como de costume pelo investigador do Inet-Md, José Luís Postiga, proporcionaram espaço ao compositor Gabriel Faro para se exprimir verbalmente, expondo o seu processo criativo, as suas influências musicais, quer performativas como composicionais, que se refletiram no segundo bloco de peças executadas: do baião nordestino colocado em estrutura de cinco tempos por Gabriel Levy, à complexidade polirrítmica e métrica do Levitation 21 de Tigran Hamasyan e à modalidade medio-oriental de Smash de Avishai Cohen.
Na última secção, Gabriel Faro apresentou as duas mais recentes composições, Sections, lançada em abril, e Infusions em estreia absoluta, duas obras onde a complexidade rítmica e as métricas irregulares sobrepostas dão aso a um virtuosismo quase acrobático do intérprete, num grande destaque da sua capacidade técnica e musical. O concerto não terminaria sem Gabriel Faro replicar a cena final do filme Whiplash, de 2015, onde executa (de ouvido) o acompanhamento e solo de bateria da personagem Miles Teller (interpretado por Andrew Neiman) sob a projeção da cena do filme.
Tornou-se na forma perfeita de fechar um concerto de grande envolvência e comunicabilidade entre o músico e o público, completando a função da música enquanto linguagem de emoções: a mensagem chegou a todos de uma forma muito particular, promovendo assim uma fusão de sentidos expressos ou interiorizados que faz da música a única língua verdadeiramente universal.