Foi na fria manhã de 3 de dezembro que se realizou mais um concerto do ciclo AcáMúsica, no Auditório Marília Rocha. Sob o tema “Piazzolla Sempre”, o Ibertrio, composto por Isolda Rubio (piano), Nuno Meira (violino) e Américo Martins (piano), envolveu a plateia nos quentes ritmos e harmonias do tango, enquadrando-o no antes, durante e com Piazzolla.
Os comentários ao concerto, da responsabilidade de José Luís Postiga (investigador INET-md e professor da Academia de Música de São João da Madeira) tentaram criar uma ligação entre a célula rítmica que liga o nascimento do tango e as suas influências, o seu desenvolvimento em tango canção, a sua vertente de transformação erudita, a sua transformação no novo tango que consagraria Piazzolla como o mais famoso compositor argentino, mesmo que os ‘tangueros’ lhe apelidassem de assassino do tango. Esta leitura iniciou-se com o famoso ‘Por uma cabeza’ de Carlos Gardel, onde o desenho disruptivo entre o verso e o refrão reflete o ritmo da havanera, cuja influência no tango se haveria de ouvir na parte final do concerto com a execução do Tango em ré maior, pertencente à suite España de Isaac Albéniz. Pelo meio, a “Danza de la moza donosa” pertencente às Danças Argentinas op.2, de Alberto Ginastera, trouxe a presença dos clusters sonoros e a importância deste tipo de agregado e do próprio compositor, enquanto pedagogo, na vida inicial e na obra futura de Piazzolla. Em resultado de todas estas influências escutaram-se as “4 estaciones porteñas” e a “Muerte del Angel”, tendo-se completado a transformação da dita célula rítmica quer estrutural como formalmente numa irregularidade regular, que impulsionou o tango para os quatro cantos do mundo e apreciado nos mais variados géneros, eruditos ou populares, mantendo a vivacidade da milonga, que vigorosamente se manteve presente no ‘anjo final. A excelência da execução e o dinamismo usado na sucessão das peças, ora em piano solo (Ginastera), em duo violino e piano (Albéniz) e em trio (Gardel e Piazzolla), deliciaram e alimentaram todos os presentes, reiterando-se “Piazzolla Sempre”.