O AcáMúsica de Fevereiro completou-se no passado dia 4, com o Reisen Trio, composto por Marta Magalhães na voz, Tiago Oliveira no clarinete e Sofia Rodrigues no piano. Apesar de não ser uma formação instrumental muito comum, o trio apresentou um repertório quase integralmente composto para este elenco, abrangendo a música dos últimos três séculos.

Nos habituais comentários, José Luís Postiga, investigador do Inet-MD (Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança), destacou a evolução da capacidade melódica do clarinete na capacidade de ‘concorrer’ com a sonoridade lírica da voz, ora em contrapontos e diálogos, ora em acompanhamentos melódicos realizados com recurso a diversos recursos técnicos do instrumento.

Foi neste contexto que se visitou Parto, Parto ma tu bem mio, uma ária do ato 1 da ópera La Clemenza di Tito, de W. A. Mozart, onde o compositor austríaco usa a ‘pujança’ da sonoridade do clarinete de ‘basseto’ para projetar o incitamento à revolta da personagem Sesto. Depois, por entre os seis Lieder Alemães de Louis Sphor, a canção Si vous l’aviez compris de Luigi Denza ou a Élegie de Massenet, o trio foi transportando o discurso para uma sonoridade mais romântica expressando delicados momentos de grande fusão entre as vozes melódicas e acompanhamentos mais profundo, ora se confrontando ora se fundindo numa expressão penetrante em que a temática da natureza, do sonho, do amor, flutuaram por entre uma plateia perfeitamente envolvida pelas sonoridades transmitidas pelo grupo. Contudo, foi em português que o clímax da comunhão entre o grupo e o público se atingiu – as sonoridades melancólicas etéreas e profundamente poéticas de Confissões de Fernando Lapa soaram como a ‘segredos’ revelados a cada um dos ouvintes, deixando-os em estado de profunda calma interior no qual ressoaram as Saudades inefáveis, em estreia mundial, do compositor Alberto Caeiro.

Se a música de câmara é assim chamada por ter sido criada para pequenas salas, proporcionando momentos de grande intimidade e proximidade entre Obra, Intérpretes e Ouvintes, ela só acontece de forma perfeita quando aqueles que comunicam, os intérpretes, estão em perfeita harmonia entre si, se respiram em conjunto cada frase, cada som, cada silêncio, usufruindo em conjunto a bondade de se transformarem no meio em que a obra se transforma em linguagem, de emoções, de sensações, de sentidos, de sentimentos que cada ouvinte apreende de uma forma absolutamente única. Se assim é, os intérpretes cumprem a sua função. Com o Reisen Trio assim foi – e foi com grande maestria. O encore apenas reforçou a mensagem: “é necessário voltar a ver La Vie en Rose” – a começar em cada um!

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