Amaro era amargo como a amêndoa que nos mente até à boca. Os habitantes do bagaço diziam que era um velho com corpo de criança. Era mudo de afagos, não tinha presente. As velhas, pecando de ternura, debruçavam o útero vazio nas janelas do domingo e adotavam Amaro em pensamento. Filho da praça, do sol poente, dos carnavais remendados e da taberna dorida, nasceu sem dia e sem mãe, nos lábios do rio em Portovento.
Era um sítio triste, desistido da vida. A história do local afogara-se numa qualquer cerveja, sem luta, sem bracejo. À noite espalhavam-se as vidas coçadas por cima das mesas, em jeito de anedota, e ali se vomitava o riso horas a fio. Imitavam a alegria, paginavam o nada e a desgraça, e com o lençol da noite aconchegavam os ossos da memória. Todos eles eram ocos de esperança, mas só...
Se já é nosso Assinante, faça o Login abaixo