Pergunta: A cidade será diferente após a Covid?
Resposta curta: É uma oportunidade para reinventar certas cidades
Resposta longa:
O longo período que as pessoas têm vivido sob a ameaça da Covid-19 seria argumento único e valioso para reflectir quanto a comportamentos urbanos. Contudo é pouco provável que a população abdique dos seus hábitos citadinos, ou mude o seu quotidiano pois essas transformações trariam uma revolução imprevisível nos desígnios económicos
das sociedades.
Mas existem lições a tirar que podem ser benéficas para a cidade em si. Por exemplo, o incremento de actividades em “espaço aberto”, quer de lazer, quer comerciais. Seria de prever que com a passagem da Covid, as pessoas em geral ganhassem maior antipatia pelos shoppings ou outras grandes superfícies comerciais. Estes por serem espaços fechados, com climatizações algo invisíveis, e que suscitam sempre alguma desconfiança quanto ao ar que ali se respira. Mas para servir de alternativa, o comércio de rua encontra-se infelizmente num estado tão débil que não dará as respostas necessárias aos anseios de consumo das populações. Consequentemente o comércio “online” irá ter maior pujança e implantação junto dos novos hábitos das pessoas e isso trará reflexos inevitáveis nos espaços urbanos.
Com isso, a “cidade”, como um todo a ser vivido, ficará em desvantagem. E, porventura, tenderá ainda mais a ser um espaço de mera circulação. Também é uma realidade que com a pandemia vivida e que ainda se vive, a utilização do espaço público tenderá a valorizar-se junto da população urbana e isso é algo muito positivo. Em especial o “espaço verde”; jardins, parques, etc..
Com efeito, é mais do que sabido que é no espaço verde onde a população pode interagir com a natureza e desse modo promover o seu bem-estar físico e psíquico. Isso trará maior qualidade ambiental à cidade em si.
Os casos mais dramáticos de cidades afectadas pela Covid-19 em Portugal, são aquelas que tiveram nos últimos 7 anos um crescimento brutal de turismo – Lisboa e Porto – pese embora terem assistido a transformações muito benéficas na recuperação de edifícios. Esse turismo galopante que teve agora o seu final repentino não prevê que a sua retoma seja para breve, pelo menos, para o seu anterior potencial.

São estas mesmas cidades que irão ter um silêncio assustador dentro delas. Terão que se reinventar para serem novamente cidades vividas. E para serem vividas de forma mais permanente é necessário que se criem e se facilitem actividades laborais que estreitem a proximidade entre trabalho e residências permanentes que advirão do número exorbitante de hotéis e seus afins em declínio.
Esperemos, pois, que não se criem obstáculos estatais para que esse processo de transformação se desenvolva, sendo que este deve ser à mercê da espontaneidade económica e se renovar por si só. E, mais uma vez, que as autarquias agilizem essa mudança urbana.